(Clcar na imagem para aumentar)
No futebol, como de resto em tudo na vida, há os que vencem e os que perdem. Obviamente que aos vencedores, o sabor da vitória é como que um tónico que sempre reconforta e revitaliza intímos quantas vezes destroçados. Às vezes não pelo facto de a terem merecido, mas apenas porque ganharam. Ora, nestas condições, por sorte, ou por infortúnio do adversário, ganhar é fazer história. É verdade para as guerras estúpidas que se travam por esse planeta fora, como é verdade para as pequenas escaramuças que se jogam no tapete verde de um campo de futebol. Maldita chama da avidez que, nem sempre maléfica, peca na maior parte das vezes por ser brutal, insensível e, um dia, tendo o nosso fim sido alcançado, só com orgulho falaremos das longas caminhadas que fizemos para lá chegar. Assim o quer a nossa soberania. Posso compreender tudo isto à luz dos desejos, dos sonhos e até das vontades de nos suplantarmos a nós próprios. Mesmo que nos sintamos infantilmente altivos com uma pequenina mas sofrida vitória. O que verdadeiramente me causa algum embaraço no que à derrota diz respeito, quando efémera e de pouca ou nenhuma valia para o avanço civilizacional dos povos, é o saber que esse amargo sabor do perder arrasta consigo mesmo dúvidas e perplexidades existenciais que, bem vista a coisa, não fazem a meu ver qualquer sentido. Corpos caídos no verde, semblantes carregados de dor, almas doridas sem norte, sonhos desfeitos com tanta mágoa. Relativizem-se as coisas. Afinal até a própria árvore tem necessidade de tempestades, de dúvidas, até de vermes roedores, até de grandes hostilidades, a fim de poder mostrar a natureza e o poder da sua consistência. Mas nunca rebenta se não for suficientemente forte. Porque razão assim não há-de ser com aqueles que perdem uma luta tão simples e muitas vezes uma luta que nem sequer merece uma profunda meditação? Contemo-nos a nós mesmos entre os vencedores. É a única maneira conhecida de dar o passo em frente. Até quando se escreve é não somente para se ser compreendido, mas também para o não ser. E se não formos compreendidos, deixamos de escrever? Não. Continuaremos a fazê-lo nem que seja apenas para nos libertarmos das nossas angústias.
Mário Rui