Eusébio do Portugal profundo.
Uma coisa me consola, Eusébio. É que não fui eu
quem cobriu Você de adjectivos, de ápodos, de cognomes mais ou menos
imaginosos. Não fui eu quem disse que Você era a pantera, o príncipe, o bota de
oiro, o relâmpago negro, o coice para a frente, o astropata. Também não fui eu
quem disse que o seu nome era Eusébio.
Outra coisa me consola, Eusébio. É saber que a
imensa popularidade que acompanha o seu nome não deitou a perder o proprietário
desse nome. Você é naturalmente modesto e assim se tem mantido. Sabe os
terrenos que pisa e recusa-se a perder a tineta!
Por falar em terrenos, como vão os «rectângulos», o
«tutu», o «onassis»? Consta-me que Você é prudente, que tem sabido acautelar o
seu futuro. Faz muito bem, pantera! Passe à história, mas leve bagagem. Olhe
que a memória das gentes é cruel!
Dar o Eu a Eusébio, que pretensão! Derive, derive e
vire e atire sem parança, Eusébio, seu genial tragalhadanças!
Alexandre O'Neill, in Uma Coisa em Forma de Assim
Mário Rui