(31
de Agosto 2016) As ideias aperfeiçoam-se
e o sentido da festa também, o avanço implica-o. É certo que há sempre os que
acham que à medida que a verdade do arraial se esfuma a ilusão aumenta. Eu acho
que não. Se antes a romaria era feita de cores predominantemente escuras, mas
nem por isso menos celebrada, hoje é o colorido que marca espaço. Vai valendo
por agora uma imensa acumulação de espectáculos feitos à maneira de um novo
estar, celebração que em todo o caso não apaga a memória de tempos idos, onde
se fundem multidões num curso comum de modo a que a unidade do festejo possa
ser anualmente restabelecida. E é já secular este conjunto de imagens numa relação
social alegre entre pares. Se ontem foi mais sóbria, mais vestida de casaco e
colete, hoje os adereços decorativos emprestam-lhe outras formas e quer se
tenha tratado de dias passados ou se vivam os presentes, a romagem somada à
solenidade, afinal não se finou, antes se transformou. Tudo foi e é apenas
resultado do modo de produção existente. O conceito que unifica e explica os
sentimentos vividos pelos antigos e pelos de agora, com as suas diversidades e
contrastes, deve ser reconhecido como verdade geral que é cunho de cada uma das
épocas vivenciadas. Só isso, porque em cada página do São Paio intemporal
podemos sempre encontrar um sólido itinerário quer seja de saudade pelo que foi
quer represente admiração pelo que é. Teve e ainda tem chancela de delírios,
entusiasmos, amores e porque não liames, recheio nutrido de coisas em que se
acredita porque são convenientes ao nosso carácter, ou não fossemos nós de cá.
O simples nome dos que fizeram outrora a festa deverá necessariamente
corresponder ao objectivo de uma longa inscrição tal como o nome das paixões
que hoje a produzem, erguidas pelo orgulho e pela gratidão, devem ser incitadas
a perpetuar a excelência das suas memórias. De outro modo, tudo se esvai e se
há coisa que não nos convém é que as gerações envelheçam e se esqueçam de
coleccionar a nossa identidade. Se assim acontecesse, o São Paio teria
certamente pela frente um grande mar de Inverno quando afinal o que mais
ambicionamos é embelezar todos os quotidianos.
Mário
Rui
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