2022,
esse sim, que bem nos convinha que não trouxesse consigo mais desesperanças de
valiosas recordações.
O
de 2021 embaciou-me em demasia os óculos, os olhos, cortou-me aproximações
porque o seu desenrolar só me deu menos bem travados diálogos, imperfeições que
nem sempre foi possível remediar nesta nova edição de vida e roubou-me os
modelos ‘domésticos’ como nunca havia imaginado.
Mas
mesmo os que venceram esta luta gloriosa souberam resignar-se como nós nos
resignámos à dita.
A
única diferença, não sendo ela despicienda, é que esses vencedores ficam com um
título de que podem valer-se para não serem entregues de todo ao esquecimento.
E
bem o merecem por terem conseguido deixar para trás as mais malditas das
solidões que os acossaram.
Ainda
sobre 2021, do cimo desta espécie de atalaia natural, a cada dia
descortinávamos para todos os lados vastos horizontes de alentos e, afinal, não
obstante alguns progressos, quer queiram quer não, ainda a paisagem ao longe
está empestada em negrumes confusos.
Parece
ainda que a nossa vontade mais não é do que frágil instrumento nas mãos de um
destino traçado pelo autor de um crime.
É
um mistério a sua pátria, a sua raça, donde veio e apenas temos a certeza de
ser um ‘profeta’ terrível, porque as suas predições recaem unicamente sobre
futuros assaz incertos.
Minando
à surda na vida, quebrou a nossa vivida centelha.
Entre
outras coisas, 2021 foi assim, também.
Não
gostei nada desse trejeito, não gostei nada do que ele me ofereceu e quase
nada, com efeito, o meteu em brios.
Vai-te,
acolhe-te no sombreado retiro e que corra daqui a uma semana aragem, por débil
que seja, que nos devolva os espaços imensos e não vacilantes.
Os
que nos alonguem os momentos incomparáveis das nossas existências, acima de
tudo os que nos possam idear a imaginação no mais vasto círculo dos nossos
sonhos ou ambições.
Chega
bem, 2022! Cada ano que entra traz sempre um valioso conhecimento do que lhe
foi o anterior e acrescenta uma esperança à nossa inocente vaidade.
-
Pelo que vejo, disse-me já 2022, o meu amigo gosta de prosear. Respondi-lhe;
-
Pois, meu rico senhor, eu moro a poucas léguas do mar, ainda a algumas do sol e
desde sempre tenho batido todos os poentes que me são oferecidos e que fazem
curas que são um milagre.
Não
lhe posso dar hoje sorrisos, mas não me tire outra vez todos os meus sonhados
segredos e muito menos os meus adorados ocidentes.
Mário Rui
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