A
mensagem fala em frio, muito frio. Vale é que ainda há restos de cores que vão
aquecendo os longos dias e mais compridas noites de mil friezas, e assim sobremaneira
úteis à vontade desses justos coloridos afagos e carícias. Gestos atestando
afinal da presença da cálida delicadeza que nos embriaga de outras quenturas diversas,
posto que por ora se é órfão do Sol. Por tais janeiros, assim dizem os mais
antigos, cai cedo a noite e então vem um cinzento qual horizonte a esfriar as
tintas do quotidiano, lançando confissões que às vezes entristecem pelo peso de
tanto casacão, botifarra, cobertor denso sobre o corpo, ceias a desoras e quase
sempre esperanças de uma outra frescura mas vinda em roupas brancas. É nisso
que apostamos, no regresso de dias gordos e sumarentos enquanto o frio nos
enfada com o vagar de quem não faz tenção de abalar. E nesta pólis tamanha, a
inverneira tem edições muito caprichosas que lá vão provocando digestão difícil
enquanto dura a manhã vestida de frio que regela mais, vindo depois a tarde
desconforme a modo de vida infinitamente maís cómodo, seguindo-se-lhe noitada
escura que desce em humidade colossal julgando revelar-se como hálito desejado.
E entretanto, a pólis dorminhoca ainda agora se voltou para o outro lado. Na
minha rua há um homem que veste samarra, uma chaminé de perpétua actividade e
uma mulher que enverga xaile, tudo ornatos, agasalhos e utilidades que são
fontes de vida na espera de um dia soalheiro útil a gente que acorda cedo e
para quem a cura só vem lá para Maio. Porque a
verdade é esta; o frio está aqui e que outros lhe façam poemas. Eu não!
Mário Rui
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