Pese
embora não haver unanimidade quanto ao dia em que veio ao mundo aquele que
viria a ser o primeiro rei de Portugal, apelidado de "o
Conquistador", assume-se agora que terá sido lá pelo dia 25 de Julho de
1109. Assim, passam hoje 907 anos sobre o nascimento de D. Afonso I, mais
conhecido por D. Afonso Henriques. Ensinaram-me os professores, e nisso também
as carteiras da escola primária me deram preciosa ajuda, que entre a perda do
ano e a mais que certa perda do brio escolar, sempre era melhor ouvir
atentamente uns e tomar bom assento de trabalho e estudo nas outras por forma a
evitar tais danos às primeiras luzes intelectuais. Era o tempo em que
aprendíamos uma série interminável de noções gerais, mas quantas vezes
lapidares, sobre todas as coisas deste mundo. Quando a aula corria mal, também
nos ensinavam a pôr o dorso curvo, mas pronto, a primária, quando não preparava
para diversos ofícios, virava sala turbulenta, muitas vezes uma aventura. Bom,
mas voltando então ao aniversariante, dele sempre fiquei com uma ideia fixa
ainda que, concedo, não raras vezes de caligrafia tremulante pois mais tarde
vim a saber que afinal o homem batia na mãe. Ora, se foi daí que a sua
propagandeada musculatura tirou a rijeza de que ainda hoje goza, então há que
dizer que o deviam ter posto numa escola primária. Teria aprendido a ser filho
e homenzinho. Dito isto, volto-me agora para o outro lado, o que melhor o
caracterizou; quando dava ares de chefe, dizem, punha a barriga para diante e
cruzava os braços na espada, como quem dizia ao país: «peço a palavra!». Aqui
já era um caderno de significados. Grande Afonso! Mas também quando lhe
cheirava a gente a mais lá pelo condado, acho que tinha um ar sonhante de
bailado mouro, intermédio dançante onde a espada, a armadura e o cavalo, não
eram propriamente jogo dócil, nem diversão de espécie alguma. Aludo a estes
episódios, e assim fecho a data, só para lembrar que hoje já não são as pessoas
que conquistam terras, cidades, independências, mas antes as ideias. E que gozo
me daria saber o que pensaria o Afonso sobre isto. Afinal, parece que ninguém
gosta do muito que se passa hoje mas, no fundo, todos dizem muito bem de coisas
de que toda a gente diz, está muito mal. Parabéns, Afonso Henriques! Volta, se
calhar até já estás perdoado. (25 Julho 2016)
Mário
Rui
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