Não acho graça nenhuma à pretensa graça dos
que brincam com coisas sérias. É aquela espécie de momice grotesca que alguma
gente mostra quando julga ter encontrado um estilo e um filão de pensamentos
humorísticos centrífugos, agora feitos à custa da epidemia de Covid-19. Entre
as personagens dessa ironia trágica abundam demasiadamente os que, parece-me,
nunca levantaram a cabeça e descobriram, com espanto, a vida. E quando tanto
“engraçadinho” desta descendência já não tem um sentimento vital relativamente
à tragédia vivida por milhares de humanos, a única ideia que me ocorre é
dizer-lhes que a maneira como tratam os outros, e o gozo com a causa que lhes
trouxe a dor, é apenas mais uma ondulação néscia do seu pobre espírito. Uma
verdadeira dor pode ser feita de muitos pensamentos, mas nunca pode ser coisa
que convide à troça, nem para desmiolados julgados comediantes. Afinal,
subitamente engraçados, subitamente estúpidos. A dor e a morte, só podem dar
origem a um sentimento de entreajuda e respeito. Sejam bem-vindos os racionais!
Mário Rui
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