Longe vai o tempo em que a jornada se fazia de
acordo com a estação, e cada estação tinha os seus próprios rituais e as suas
azáfamas, onde pândega também era pressa. Tudo segundo a lida aturada e as
colheitas, a chuva, o frio e o sol. Hoje dizem-me que o mundo é formado por
tantas pequenas aldeias, mas sem prensas nem dornas. Tanto mundo visto por
tanta gente que afinal não sabe ainda o que é a sua aldeia. E assim lá se perde
a sonoridade das uvas, lá se vai a vindima desta aldeia do sol e só ficam os olhos
borrachos de quem muito mundo viu mas a pouco assistiu da sabença da sua
aldeia. Que granize a chuvada de Janeiro, venha Maio fecundo e um Outubro
aromático de néctares. É por este aspirar a sucos doces que se descobre a nossa
aldeia. Sonhando tudo em grande, o mundo, fragmentamos os nossos sítios. Ficam
escuros, escondidos, subterrâneos e não há quimera que os salve.
Mário Rui
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