Há
governos que, lançando mão da melhor das nossas bondades, mais não são que uma
mera conveniência. Mesmo assim, talvez não viesse mal ao mundo conquanto não
fossem, normalmente, uma grande inconveniência. Mas são! Ou porque governam
mal, ou porque apesar de serem a maneira escolhida pelo povo para dirigirem um
país, se deixam a certa altura enlear no abuso e na perversão julgando deste
modo passarem inalterados à posteridade. É a fase em que demonstram até que
ponto o povo pode ser enganado e, pior que isso, é o momento em que
verdadeiramente mostram do que são capazes no que de pior vem das suas
entranhas; o fatal silenciamento forçado das vozes descontentes que se fazem
ouvir, o discurso apontando aos desagradados a culpa pela desobediência civil
que a estes últimos assiste. Correm tais governos supostamente democráticos a
tapar velozmente todas as fendas por onde possam entrar lufadas de ar fresco. É
ar contaminado, dizem eles! Só reconhecem o direito de revolução por parte dos
aborrecidos com tal modalidade de governação se estes aborrecidos não
aborrecerem a lealdade ao governo instalado. Que linda revolução permitem. Ao
não perceberem que a sua própria tirania ou ineficiência no mando da coisa
pública é insuportável aos olhos dos outros, só lhes dá para calar vozes
incómodas, seja com o bastão ou com a espingarda, tanto faz. A táctica é sempre
a mesma, quer falemos da Ucrânia, como da Venezuela. Em todo o lado há
felizmente homens que têm uma espinha nas costas que não se deixa dobrar e
quando alguns mandam sufocar uma insurreição de desgostosos, então aí não há
mesmo dorso que vergue. Somo a Venezuela actual a este estado de autoritarismo
que negligencia e despreza partes importantes da sua gente já que por lá também
vivem muitos dos nossos patrícios que, por opção, se mantêm lusitanos mas
igualmente pessoas com direitos, justas aspirações e bons cidadãos . Neste
país, quer alguns queiram quer não, já se iniciou um processo de insurreição e
explosão social com protestos suficientes para acharmos que não serão
certamente vindos de forças ocultas da América do Norte ou da Colômbia. O mal
está no modelo de regime que implementado acaba por não mostrar o novo dia que
anunciava, provando afinal que há tradições de governação que há já muito
perderam partes substantivas da sua integridade. Pena é que ainda encontremos
gente que acredita que as milícias, os carcereiros, a polícia política, são
formas democráticas de governar pelo discernimento ou pelo senso moral. E o
Governo de Portugal? Já lhe ouvimos uma palavra de sossego quanto aos que tão
portugueses como nós por lá temem pelas suas vidas, pelos seus bens e pelos
seus filhos? Não! A única reciprocidade de obrigações e interesses foi a do
Partido Comunista que joga na caduca mensagem de “solidariedade para com o povo
e o Governo de Nicolás Maduro na sequência da violência que já provocou três
mortos e dezenas de feridos no país”. Tarda enviar igual conteúdo ao
'democrata' Viktor Yushchenko, na Ucrânia!. Porque esperam? Para os portugueses
que lá vivem, nada! E eu a julgar que o PC já tinha crescido politicamente.
Mário
Rui
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