Lisboa,
como de resto outras cidades portuguesas, assistiram às festas de passagem do
ano com uma das maiores acções policiais de sempre. Estas operações incluíram a
colocação de barreiras de cimento e de estruturas com espigões metálicos nos
acessos aos locais de festejo, para além de revistas surpresa nas ruas.
É
lamentável que outros mundos, que estão neste, a tanto obriguem. E quanto mais
maldoso se torna o fanático, mais se entranha nos racionais a indignação contra
este mal muitas vezes sem rosto, do qual todos se começam a sentir vítimas. A
preparação, a execução e, parece, até o inquérito, tudo isto está agora a cargo
dos criminosos. Por agora resta-nos erguer barreiras protectoras que blindem o
público. Claro que precaver é preciso e assim sendo cumpre dizer que já não há
romaria como antigamente. Agora, arraial é quase como fazer um adeus às
relações pessoais ou então dizer-se que não há festa mais bela do que a
vigilância. Tudo isto em nome da salvação pública. Assim vai o mundo, afinal
uma história para meditar, uma continuada interrogação. Vigiemo-lo pois, se
mais não estiver ao nosso alcance. Já começo a perceber os que preferem os
cantos da natureza onde tudo seja quieto, pouco passeado, de uma cor sossegada
e de solidão quase casta. Pena é que tal se transmita por tradição vinda de
coisa má; mundo maluco, perigoso.
Mário Rui
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