Presidente
da Nestlé diz que água não é um direito humano e deve ser privatizada
O
actual presidente e ex-CEO da Nestlé, o maior produtor de alimentos do mundo,
acredita que a resposta para as questões globais da água é a privatização.
Assim
sustenta que os governos devem garantir que cada pessoa disponha de 5 litros de
água diária para beber e outros 25 litros para sua higiene pessoal, mas que o
resto do consumo teria que ser gerido segundo critérios empresariais.
Enfim,
não me espanta o que este iluminado senhor diz pois que afinal trata-se tão-só
de um pensamento vital do passado, e do presente, da líder mundial na venda de
água engarrafada. Um sector que representa 8% do seu capital, que em 2011
totalizava aproximadamente 68,5 bilhões de euros. O que lamentavelmente
continua a ser um sinal deste mundo confuso e desordenado é o facto de ainda
haver gente que se arroga a pôr a descoberto a fraqueza do seu próprio
discurso. Então privatizar a água, não é? Claro, então aquilo que a Natureza
nos dá deve ter um só dono e dar assim um empurrão valente à economia privada.
Bom, mas comecemos pelos detalhes; antes mesmo da água, privatizem-se os rios,
depois os peixes, matem-se entretanto os que forem desertores, caminhe-se até à
Amazónia e privatize-se também o pulmão do mundo e depois os nativos da
floresta. Na viagem passe-se por África e sequem-se todos os africanos pobres,
esses monstros do egoísmo que têm dado cabo deste recurso natural tal tem sido
a sua sede. Querem água, os malandros? Pois que a comprem ou então que morram
sequiosos, serão menos bocas esfomeadas a defraudar-nos. Na volta, senhor Peter
Brabeck, fale com o Sol e livre-nos da escravidão desse asno. Tome-o para a sua
amada empresa, acenda-o quando muito bem lhe aprouver e tire dele o expediente
que mais rapidamente possa dar dinheiro à sua companhia. Já agora, faça-nos um
outro favor; a Lua, a Lua espera-o e na barafunda de todos estes seus
testemunhos públicos de solidariedade para com os sedentos, não se esqueça que
ela clama pela sua mão amiga pois o Mar da Tranquilidade, apesar de calhau e
pó, deve também ter água a rodos para engarrafar. Mas faça-o quanto antes não
vão todos estes bens essenciais da humanidade cometer um dia a refinada tolice
de morrerem antes mesmo de deporem “agradavelmente” a seu favor, ainda que em
desfavor dos outros. Os outros, esses, não contam para nada, senhor Peter, só
estão contra si e contra a sua boa-fé em prol da nobre causa que o senhor
abraçou. Fique bem, mas vá bugiar com a sua papada oleosa de nutrições
misantrópicas e espero que nunca lhe falte a água. Se ela lhe escassear, então
beba dinheiro desse dilúvio crescente de tanta parvoíce privada.
Mário
Rui
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