Com
87 anos de idade, o ancião prudente Mickey Mouse meteu pés a caminho e em
surtida de rato pelos interstícios de um tapume, e pelando-se, uma vez caçada a
entrada, lá veio até Estarreja. Amigo de fazer as delícias dos que foram da
minha infantil geração, roedor de holofotes, humor e cinéfilas fantasias, eis
que finda a travessia lá poisou entre as patinhas de veludo na tenda do
Carnaval de Estarreja. Toda uma empreitada superada, o Atlântico não dá
tréguas, não sem que antes se escusasse aos vivas votados ao nosso par real,
atestando afinal da cor e alegria dos régios regimentos, e então só depois
viria, atenta a prova de benevolência do plástico, a olhadela à vitrina
carnavalesca que é de Estarreja. Ao tempo que aproveitava esse ensejo de ver
coisa bem feita, lá ia tomando notas do filão de pitoresco a que assistia e em
rápido pulo de tecnologia a que nunca foi habituado, mas a que teve de se
acomodar, era vê-lo a remeter habilidosamente para Hollywood um rol de recreios
já por cá míticos, refinados trabalhos, maravilhas que não requerem calmantes
nem refrigérios. Tudo ensinamento reportado a Walt Disney, sabendo Mickey que o
criador já há muito não faz criação mas que a outros deixou lição. E no fim da
passeata vista e escrita em tela electrónica, lá dizia o ancião ratinho; «Walt,
estejas tu onde estiveres, poisa os olhos neste contentamento, sítio onde todos
vão larachando, onde todos se detêm a passar divertimento, cortejo que por fim
é coroação prestada à memória de um Carnaval que é coisa estupenda, de
organização tangível de cantantes, poetas febris, entrudos hilariantes,
artistas de requinte» E lá voltou Mickey a Hollywood , triste de partir até
terras do outro lado, na esperança de regresso a tão olímpica folia. Tinha
estado no Carnaval de Estarreja, vulto que lhe havia causado surpresa, e da
boa.
Mário
Rui
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