"Preso
por ter cão e preso por não ter"? (LER
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Mundo
tolo, este em que vivemos. Assim como há meses certos de romarias, épocas
próprias para pescarias à beira-mar e momentos tristes de derrotas, já só
faltava um campeonato especial para se jogar à bola. Chamar-se-ia pois a
temporada oficial da caridade futebolística. Seria então, jogo após jogo, um
desejo intenso de praticar o bem, não carregando o adversário com golos em
demasia. Os corações dos jogadores tornar-se-iam vulcões, não do chuto na
redondinha, mas de afectos mil, mal a baliza se ressentisse de batatas a mais.
Qualquer coisa do género de récitas de futebol onde imperasse a piedade em
todos os cantos marcados, ou seja, a bola era atirada para a baliza contrária,
compaixão sincera no penálti a cobrar, pois se o esférico levasse o beijo às
redes, retrocederia e reverteria então para uma qualquer instituição
beneficente, filantrópica. A partir do primeiro, ou vá, do segundo golo, os
atletas da arte, os da casa e os de fora, entrariam em relações com uma caneca
vidrada e, vai daí, bebendo em fraterna comunhão, acabava-se a partida por
estar já a tomar ares de arrobas. Isto sim, daria mais popularidade à
modalidade e todos se ufanariam com tanta longevidade e robustez de carácter.
Remato, mesmo sem querer marcar mais golos, dizendo que, tal como a praga dos
gafanhotos, a dos mosquitos e a sarna, grassa modernamente a epidemia dos golos
em excesso que tanto incomodam certa gente. E se fossem a menos? Era o quê?
Valiosos brindes para a equipa adversária? Ora bolas, por falar em futebol! A
mim abrem-se-me chagas a cada passo de disparates ouvidos nesta matéria, quais
perfumes inebriantes que exalam destas consciências tão bondosas e aromáticas,
e, mais, ainda ninguém me chamou santo.
Mário Rui
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