Não,
não fomos a Marte, ainda não descobrimos o caminho terrestre para as Berlengas,
também ainda não entendemos porque é que em Portugal já só resta um punhado de
sapateiros, alfaiates e mestres-carpinteiros, a par de também não termos ainda
percebido porque apanha o peru, no Natal, uma grande perua, ou que jeito dá à
couve ter olhos. Pronto, não descobrimos nem percebemos nada disso, e é o que
é. No entanto, o nosso rectangulozinho goza da curiosa particularidade de ter
três chefes de estado, a que chegámos. Porque Portugal, com ser pequenino, quer
ser diferente em quase tudo, preferimos apostar então noutras coisas lindas de
morrer … a rir. E, vai daí, revolucionadas todas as nações do mundo – grandes,
médias e pequenas – já só faltava fazer o mesmo com as pequeninas. Queremos ser
gente como os outros e passar à história com uma revoluçãozinha comediante mais
ou menos proporcionada, ou proporcional, como queiram, ao nosso tamanho. É
justo, acho eu. E se pensada a coisa por alguns, ainda melhor foi feita por
outros. Três galos do mesmo poleiro, que jamais se digladiam, juntam-se para
anunciar ao país que a Final da Champions será realizada na nossa capital. Que
orgulho, até o português caiu em transe futurando à nação dias bem luminosos. E
mais; quando me quiseram fazer perceber que a bola ia dar, ou já estava a dar,
um salto colossal na relva de preito merecido aos profissionais de saúde, então
aí tive um delírio indescritível. Mas ainda havemos de ver mais e melhor, se o
país quiser. Por mim, percebi finalmente que os estadistas pequenos se revelam
nestas empreitadas, e os estadistas grandes são revelados pelas eloquências de
certos silêncios.
Mário Rui
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