Uns
agridem um, estamos ainda à espera da justiça que há-de vir das mil e uma
noites de Bagdad. Outro mata uns, dá à sola e é a TV que, parecendo investida
de propósitos justiceiros, cede a um furor de informação persuadida de que
tomou o lugar à polícia. As ruas têm drama, sítios por onde infelizmente muitos
deambulam por entre a derrocada física e mental definitiva. Quanto a gatunos,
incorrigíveis e precoces, passeiam-se por aí aos magotes, impunemente. Mas o
que importa tudo isto à altivez da nossa mediocridade genealógica? Ao país
importa é inverter a polarização dos actos necessários e vitais, a nossa cultura
moral, e falar, falar muito daquele “horrível crime”, inoportuno, acontecido
num corredor entre dois futebóis. O país capta essa brisa condensando-a numa
auréola de prodígio pensante. Que sono de país, que preguiça de gente. Será que
não há por aí umas abundâncias de assunto importante que acabem de vez com esta
monotonia de critérios populares?
Mário Rui
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