Não
se trata, como alguns querem fazer crer, de uma guerra de religiões e muito
menos uma guerra às religiões. Trata-se, isso sim, de informar algumas “doutas
mentes da ciência política” nacional e internacional, esquecidas que estão do
valor de associação, que a marca distintiva da civilização ocidental, a nossa,
continua a ser a capacidade de se voltar para si mesma para se compreender,
para se autocriticar e, assim, proteger culturas diferentes. Mesmo que para
alguns petrificados bárbaros, assassinos da paz e do progresso, o espiritual
esteja apenas ligado à intolerância, o que é importante é que lhes digamos e
mostremos que jamais nos conseguirão convencer do real a partir do irreal. A
especificidade dos da nossa espécie, livre e compreensiva, tem que se lhe diga,
e quando valores associados a crenças malucas conferem ‘direitos’ quanto à
chacina dos diferentes, então essa pretensa fé pode tornar-se numa forma de
poder. É nesse preciso momento que até a saudável fé perde o seu fundamento
mais seguro, ou seja, a faculdade do diálogo. É por tudo isto, mesmo entrando
em conta, aceitando, embora não concordando, com as opiniões dos que por cá
entendem que ser-se Charlie, por estes dias, é sofisma, que insisto em também o
ser apenas porque acredito que quando as armas que jorram fogo são a única
solução, já não temos qualquer hipótese de nos salvarmos. Para guerra, já me
basta este tipo de chacina perpetrada em Paris, e outras que tais, pelo que
convirá combater este terrorismo, que não traz consigo qualquer alternativa
ideológica, política e muito menos civilizacional, mas nunca perdendo de vista
a vantajosa coexistência pacífica com a diferença vinda de quem a assume e a
quer com paz. Quanto ao mais, onde incluo especialmente essas “doutas mentes da
ciência política”, que no caso do hediondo ataque em França já começaram a
misturar direita e esquerda, opressores e oprimidos, colonos e colonizadores,
devo lembrar-lhes que no assassínio inqualificável de seres humanos, não há
direita nem esquerda, há só humanidade ou, se lhes der mais jeito, há esse
governo do interesse de todos a que esses mesmos chamam de República. E ainda
há uma outra singularidade porque tem a ver com a morte, que é, inequivocamente,
a última singularidade, a singularidade radical. Direitos para todos, sim.
Privilégios é que não!!
Mário
Rui
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