O seu a seu dono (AQUI)
Por
aqui se vê quão longe vão os conhecimentos médico-científicos de certos
políticos nacionais, eles que pretendem ser os entendidos, os educadores e os
administradores da saúde pública no país. E eu adivinho quão profícua deva ser
essa prescrição de alveitares e a solidez de tanta cura que as suas capacidades
boticárias por certo produzirão nos doentes. Como diria um famoso especialista
em ciências naturais do século XIX, acho “singularíssimos aqueles naturalistas
que pretendem fazer química sem molhar a ponta dos dedos”. Cuidem-se pois os
que queimaram as pestanas a cursar Medicina na Universidade. O limite rigoroso
da ciência por vós aprendida, agora, já não se impõe por si próprio. Essa
necessária aprendizagem passou a fazer-se no Parlamento e por meio da vaga
generalidade de algumas opiniões pessoais e razões particularmente deles, dos
deputados. De resto, é daí que vem a importância capital e o brilho académico
com que o País tem vitoriado estes génios da medicina, colocando-os mesmo a par
das melhores cabeças mundiais na matéria. Por este andar, logo virá o tempo em
que o deputado se encarregará da receita, ainda que seja com a menor soma
possível de sabedoria, mas saber também pouco importa. Ao verdadeiro médico, o
que sabe da poda, restará a tarefa, de quando em quando e se o deixarem, coisa
de que duvido, de efectuar a correcção de deformidades ou rudezas anatómicas de
algumas cabeças. Não digo quais, pois não é difícil imaginá-las.
Mário
Rui
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