Ruínas?
Talvez sejam só a lição de um tempo em que as coisas outrora vivas, e quantas
vezes generosas, se deixaram arrastar inexoravelmente por entre as nuvens e
marés de uma vida longamente acontecida. Algumas são também deuses com pés de
barro, pacientes em aguardar o fim de uma distração que leve ao vestígio.
Outras serão memórias de um belo poema findo justamente quando todas as pedras
aparecem mortas na rua. Na barafunda de todos estes testemunhos, fica-me a
alegria por lhes poder falar mas também a condolência pela dor que em si mesma
a ruína reflecte. Mas tem história, tem factos, vanglórias e desgostos, e
possui ainda alma esculpida a martelo e cinzel onde se demoram, parecendo
ilusoriamente desfeitos, os restos marcantes ou de jóias, ou então, não importa,
de refinadas tolices de uma existência. A das pedras, a do escultor e por fim
do alguém que em tempos volvidos fez destes agora despojos, quiçá, uma
estupenda significância. Vale sempre a pena fitar o que se desprende ou cai,
espólio que se entranha mostrando a fisionomia do que foi. Em parando ante
herança assim vista, vivo interiormente o êxito de toda esta exibição de
momentos que devem ter feito as disputas, os alaridos, as conveniências ou as
sãs convivências de gente de luas idas. Detenho-me, e olhando pensando, estou
como que dizendo que não vivo só comigo mesmo e então este cortejo de ruínas
logo vira respeito, muito respeito e saudades por ‘majestades’ extintas, mesmo
que estas pedras que agora rolam pelo chão sejam memórias de fortunas ou fracassos.
É história com essência! O resto, com o vagar de quem as percebe, às pedras e
aos que as povoaram, há-de ser sempre um limpar de olhos evitando mostrar a
lágrima que as recorda.
Mário
Rui
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