E
talvez agora fosse altura de nos concentrarmos, todos, mas mesmo todos, na
defesa da vida humana. Agora é altura de nos deixarmos de activismos políticos
de sofá, e tentarmos separar uma coisa da outra, cuidadosamente. Se tivermos de
criticar alguém, ou algumas coisas, haverá certamente melhor ocasião para o
fazermos. Por ora, tudo quanto há de ruído nas opiniões, nos juízos, nas
atitudes menos pensadas, tudo quanto há nas ideias subitamente formadas, até
tudo quanto há pelo que se não diz, deve ser passado a segundo plano. Tente
fazê-lo – veja o que resta. Tente fazê-lo, e, quando acabar, acredite em si e
nos outros que lutam por si. Melhor ou pior, tente apenas fazer algumas
perguntas pouco usuais, mas com ar muito casual. Tente, por exemplo, perceber,
com um sentimento muito claro, o que pode fazer para ajudar à situação. O medo
que experimentamos em face da realidade actual, da realidade exterior, mas
sobretudo da nossa própria realidade interior, só nos pode dar bons motivos
para ultrapassarmos esse temor e suprir as nossas deficiências ainda
excessivamente presentes. E esse pequenino esforço de aproximação à realidade,
mesmo que lento, mas persistente, talvez seja a nossa mais preciosa conquista
das últimas décadas. Vamos lá a um lugar (já) comum; J.F. Kennedy, 35°
presidente dos Estados Unidos (1961–1963), disse um dia; “não perguntes o que
pode o teu país fazer por ti, mas pergunta-te o que tu podes fazer pelo teu
país”. Chega, ou não? É que a força de uma nação também está no seu povo. E se
alguém houver que não queira, ou não possa alargar a razão do coração, pelo
menos que dê largueza à compreensão. E que ninguém adie para as calendas gregas
o dever de perguntar o quão pouco custa cada uma dessas abnegações.
Mário Rui
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