Quanto
às eleições no Reino Unido, confesso que vi pouco. Conhecidos que estão os
resultados do acto, podemos agora somar os “mas”, os “porquês”, os “pois”, os
“não obstantes”, “a crise”, os “nacionalismos”, as “clivagens” e o que mais se
queira. É tudo análise política que se pode fazer e, mais ainda, até pode
concorrer para o gosto de uns e o desgosto de outros. É isto a democracia e uma
vez que neste país funcionou de novo bem e a tempo, só devo ficar satisfeito
pois, para além do regime ter funcionado com normalidade, a sociedade civil
local viu-se tão mudada quanto à fisionomia que as sondagens políticas lhe
atribuía que, chamado o povo às urnas, ficou claramente patente uma visão
deveras estreita daquilo a que se convencionou chamar de processo de estudo de
um mercado ou de uma opinião pública – vulgo sondagem. Satisfez-me porque
continuo a crer que, neste particular, há, em nossos dias, uma porção de
opiniões, de sentimentos, de instintos, de vontades, que devem o seu surgimento
ou ressurgimento a factos alheios ao que se diz na praça pública. Mesmo
lançando mão da ciência estatística e da probabilidade, o certo é que mostrar a
razão de todas as nossas inclinações e de todas as nossas ideias pode assinalar
bem, no sítio certo, a fragilidade do tido como antecipadamente seguro. Os
fleumáticos ingleses, votaram como muito bem lhes apeteceu e os conservadores
no Reino Unido obtiveram a sua primeira maioria absoluta desde 1992. Embora
alguns tenham insistido, lá, ontem, como hoje cá, na descoberta prévia do sentido
de voto destes e de outros eleitores, de novo erraram no que diz respeito à
avaliação dos impulsos, ou mesmo dos instintos contraditórios do povo que
acorreu à eleição. É assim que as pessoas erguem a sua voz, pouco me importa se
para melhor ou não, porquanto não me cabe pôr em causa o resultado do seu voto.
A liberdade é isto mesmo e atenção que a consequência deste sufrágio lá por
terras de Sua Majestade, a Rainha Elizabeth II, bem pode ser um ‘case study’,
eu chamar-lhe-ia até um Guia Prático e Essencial de Estudo Pré-Eleitoral que,
se entretanto editado a tempo e horas, ainda poderá vir a ser folheado no nosso
país, no mínimo pelos mais crédulos em filosofia política logo ganhadora, por
forma a que possam compreender, se é que sabem ler política, da razão das
coisas, sendo para tal condição necessária que não permaneçam acorrentados ao
meio dominante, vislumbrando o futuro apenas através de algumas formas mais ou
menos incaracterísticas. Enfim, fica a sugestão e já agora – se me é permitido
- um conselho aos eleitores de cá; desviem-se de meios de sondar e de vozearias
especulativas e sigam as vossas máximas de vida. Essa é uma boa filosofia de
votante, a única que submete o voto à razão individual e finta os dogmas de que
alguns se acham donos intemporais. Ah, e também serve para outra coisa; subtrai
depois esses mesmos de toda a discussão racional deixando-os entregues ao
perplexo. Mas isso é lá com eles. O importante é que cada um vote como quer e
em quem quer, de preferência nos que não subvertem o mundo, claro!
Mário
Rui
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