Sem
particulares gostos clubísticos que me liguem ao futebol da vizinha Espanha, vi
hoje o dérbi Barcelona-Atlético de Madrid. Futebol sem absurdos, bem jogado,
com inteligência nos pés – seguramente descida do cérebro – sem nebulosidades
quer de jogadores, quer de árbitros. Límpido e iluminado pelos artistas que o
disputaram, o jogo serviu-me, sobretudo, como certeza de que pouco
contraditório, discussão estéril ou vozes biliosas se ouvirão na ressaca do
dito. Ou seja, a história do mesmo será testemunha e não juiz, coisas às quais
deve então corresponder a atitude do espectador ideal. Eis porque, salvo o
devido respeito pelo futebol cá da terra, pobrezinho mas satisfeito, ainda
estamos a anos-luz do que, nesses particulares, se passa em casa espanhola. E porquê?
Tão-só porque a questão é esta; onde o nosso jogo da bola tropeça, outro não
encontra obstáculo, dentro e fora do gramado. Venceu o Barça, mas isso pouco
importa. Quando a luta findou, pelos vistos educada no espírito do não
subjectivismo excessivo e parcial, amiúde cego, grosseiro, todos se
cumprimentaram. E assim se manteve a excelente condição, o desenvolvimento e os
necessários influxos dos fenómenos futebolísticos que em tudo contribuem para
que cada jogo, em Espanha, talvez também em Inglaterra, seja uma verdadeira
contribuição ao desporto-rei. Tal conjunto de condições, ainda que às vezes
indubitavelmente difíceis, são indispensáveis a quem se arroga o direito, e
bem, de se pronunciar sobre a alta qualidade do seu futebol. Por cá, tudo é diferente.
Para pior! Continuamos crianças grandes e de ímpetos exageradamente espontâneos
o que, acrescente-se, convém-nos refreá-los, para que não tenhamos medo de nós
próprios. Dissipar a espessa cortina da ilusão que o esconde. É disso que
precisa o futebol português.
Mário
Rui
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