Das planícies áridas de Espanha, ergue-se o
aeroporto de Ciudad Real, feito de vidro e aço escovado, a brilhar à luz do
sol. Vangloria-se de ter uma das pistas de maior comprimento da Europa. O seu
terminal, amplo e arejado, foi concebido para acolher 5 milhões de passageiros
por ano. Custou quase mil milhões de euros. Mas não se vêem aviões. É um
elefante branco, financiado com o dinheiro dos contribuintes. Existem outros
aeroportos «fantasma». Por todo o país, há projectos semiacabados: o legado de
políticos que utilizaram os fundos públicos para satisfazer a sua ambição.» O
Continente Perdido conta-nos a história de um sonho falhado, uma visão nobre
que se tornou perigosa e que conduziu a Europa à mais grave crise que enfrenta
desde a Segunda Guerra Mundial: uma crise para a qual estava totalmente
impreparada. Um dos pilares do sonho europeu, surgido no pós-guerra, era a
criação de uma moeda única, e com ela surgiu o dinheiro fácil, seduzindo alguns
países que se lançaram numa voracidade despesista. Após a crise financeira dos
Estados Unidos, a Europa foi inevitavelmente atingida e deparou-se com uma
crise da dívida pública que põe em causa todo o projecto europeu. O Continente
Perdido está repleto de casos patéticos, que cruzam os bastidores dos centros de
decisão política com as histórias de cidadãos comuns, dando um retrato ímpar da
mudança dramática da História a que assistimos nos nossos dias. Inclui, ainda,
entrevistas com funcionários europeus de topo, dentro e fora do sistema, e
relatos dramáticos de algumas das cimeiras europeias. Um livro claro e de
leitura apaixonante, de um dos mais conceituados, e bem relacionados,
jornalistas dos nossos dias, que nos explica com invulgar simplicidade como
chegámos aqui e para onde caminhamos.
Mário Rui