BES para cá, BES para
lá, tudo parece ser como se de festa brava falássemos. A mim, não cuidado
nestas matérias da banca desleal que campeia em roda livre pelo país, o que se
me afigura certo é que como em Pamplona, festas de San Fermin, tudo se resume à
luta pela sobrevivência. Touros desembolados persistem em investidas ante o
pacato zé-ninguém que, em lugar de confiar em enxergão amigo que ponha ao
abrigo das mentes matreiras a sua economia de uma existência, decide
inocentemente colocar a sua vida nos bolsos e na mente moída de gente ávida de
sucessos pessoais. É uma luta por sobrevivência que a uns sabe a eclosão de
sentimentos expostos na banca da feira das vaidades e a outros a mais não
corresponde senão a barafunda, palco da dor pessoal de quem se sente exposto a
estes testemunhos públicos de assalto aos tronos que conferem poder, mas também
aniquilação completa do carácter cívico de quem os pratica. Bem pode o BdP vir
acalmar as consciências mais inquietas, desassossegadas e com razão, pois que
ao invés do que se afirma, tudo isto não é mera arte nova, é antes caso de
polícia. E como caso de polícia que se assume ser, só há uma solução para estas
torpezas do espírito que não é nada santo; uma extorsão assim metodizada só
pode ter o caminho da condenação. A mais não se pode aspirar e acrescente-se
mesmo o nosso riso legítimo e a nossa pequenina vingança se todos estes
espíritos vierem a tombar. Se nos são prejudiciais, que mais podem esperar? Ah,
e cabe-nos apupá-los mesmo depois de condenados. Afinal está decididamente
instalado o caos, ninguém sabe onde começa e muito menos onde acaba o romance
em torno do grupo espírito santo – com letra pequenina, como deve ser – quer se
trate do BES, BESI, BESA, empresas, holdings, offshores e circo restante que
gira à volta do nome. O cenário é a prova provada que vivemos um tempo e um
país que se arroga o direito de dar alcova impune a entrudos mascarados de
toureiros que assim desempenham o martírio destas lides. Repito, se as pessoas
de Pamplona cedo se vestem de branco mas depois é o vermelho que predomina,
então não há grande diferença quanto ao que por cá se passa. A existir, ela
reside basicamente no facto de, no meu país, igual vermelho corresponder tão-só
à sangria que rapidamente tomou conta de todos nós. Por culpa do nosso tempo
que acabou por englobar certos homens em três categorias; os maus, os bons e os
burros, ou seja, os animais de ataque, os animais de trabalho e os que vivem de
fantasia. Todos são culpados, mas a ajustar este estado de coisas, eu começaria
por transaccionar os maus cobrando-me da mesma moeda que usam para com a nossa
boa consciência, depois diria aos bons para se afastarem do convívio dos atacantes
e finalmente recomendaria aos burros, eu mesmo, que se vissem melhor ao espelho
de modo a achar a careta mais adequada para cada um dos efeitos cénicos da
triste vida em que os espíritos prevalecentes nos meteram.
Mário Rui
___________________________ ________________________________