Tecla o pai, tecla a mãe, os filhos teclam,
os amigos teclam e todos acham que se relacionam neste trato coagulado fintando
os prazeres do convívio que está à vista e dando primazia aos horrores da
clausura electrónica. Expliquem-me lá que raio de afectos são estes, pessoais,
familiares, sociais, emitidos por via insegura, congelados, inspirados por essa
condição que é a de assimilar uma nova maneira de se ser homem assente numa
enigmática fragilidade de laços humanos. Eu acho que a insegurança inspirada
por esta nova e nefasta condição não vai trazer, a este mundo repleto de sinais
muito desordenados, nada de bom. É o pai, a mãe, o filho, a família, a
comunidade que, deligados, precisam de ligar-se? Mas que diabo, se há vínculos ausentes
ou mesmo obsoletos não haverá porventura outro meio mais confortável, mais
dedicado, de os restabelecer? Não se podem apertar laços sem que se lance mão
dessa comunicação fragmentada e imperfeita que é a transmissão por tecla de
sentimentos facilmente descartáveis? Então mas a actual família, a nova
sociedade, já têm medo dos encontros próximos pois é uma ameaça que tal
condição possa trazer encargos e quem sabe dissabores e vai daí os troquem por
falas ambíguas, distantes e descomprometidas? Afinal, o co-fundador da Apple,
Steve Jobs, também ele ambivalente criador de novidades que atraíram a atenção e o desejo dos
consumidores de tecnologia de todo o mundo, lá terá percebido a razão pela qual
disse um dia; “Porquê
alistarmo-nos na Marinha se podemos ser piratas?” De facto, há infelizmente uma vida social que clama
por uma boa quantidade de fingimento e é pena que muita da moderna tecnologia
deixe abundante gente contente por a vida ser apenas uma coisa após outra e de
preferência feita de teclas. E que saudades eu tenho de cordas sensíveis!
Mário
Rui
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