Afinal,
para que serve o referendo? Do fundo do coração, o país merecia-o!
Sobre
a eutanásia, pouco sei. Julgo é saber alguma coisa, talvez até muita, sobre
viver morrendo aos pedacinhos. E afianço-vos que é coisa que nasce de um longo
roer precedente, coisa que ulcera o espírito, a alma, o coração. Quer de quem
habita o pesadelo, quer de quem lhe conhece a morada. E olhem que se morrer é
trágico, viver cientificamente poderá surgir-nos também como algo aterrador. Num
caso ou noutro, bem gostaria de ter a fórmula mágica para, em momentos tão terríveis,
poder levantar a cabeça e descobrir, com espanto, a vida. Mas não tenho. A
única e exclusiva verdade que constato é que uma verdadeira dor é feita de
muitos pensamentos. Justamente por assim ser, interrogo-me a propósito do
direito dado a uns poucos para reflectirem, e, pior ainda, decidirem, sobre tão
melindroso assunto. Falamos de viver e morrer e quando o debate aborda a dureza
da sorte de cada um, não deveria ser seguramente
uma minoria a ajuizar sobre a angústia que a cada um cabe gerir. Aqui, viver ou
morrer tanto pode ser um epíteto como um epitáfio, mas, por favor, deixem que
seja cada qual por si a decidir o poema inteiro. E não se trata de descobrir
uma nova existência ou uma nova desistência. Trata-se apenas de multiplicar os
pontos de vista que revelarão, na realidade normal, uma mais consubstanciada formulação
acerca da questão que não é de uns poucos, mas de todos. Nós! Apenas muitos,
melhor se um povo inteiro, justifica o valor absoluto que damos a certas contingências
da nossa passagem pelo mundo.
Mário
Rui
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