O "Bissaya Barreto" foi construído em
1943 na Murraceira, Figueira da Foz, pelo mestre Benjamim Mónica. Em
12/01/1950, no seu ancoradouro de Sto. António do Vale da Piedade, no rio
Douro, foi vítima de um enorme incêndio, que quase o destruiu por completo, em
particular o casario à popa ficou tremendamente danificado. Em 27/11/1951, com
o nome de SÃO MAGAYO, larga do Porto com destino à Gafanha da Nazaré, onde
viria a ser recuperado por um novo armador, a Empresa de Pesca Portugal, Lda.
Em Abril de 1955, após cuidadosa reconstrução é lançado à agua nos estaleiros
dos Irmãos Mónica, Gafanha da Nazaré com o nome de PARAÍSO. Vendido de novo em
1956, passou a ser o "RIO ANTUÔ
(Texto e fotos do blogue “Navegar à Emposta -
Verdadeiros Heróis de Uma Epopeia Esquecida – A Faina Maior”).
(Foto do “Rio Antuã” de Maria Da Cruz
Pires
- Torreira)
É curioso. Contava-me o meu saudoso pai que, lá
pelos anos 50, vivendo em Lisboa mas com raízes em Terras de Antuã, um ‘belo
dia’, era assim o relato, ele e seu irmão, ambos amantes das coisas do mar, se
haviam decidido pela construção de um pequeno barco à vela. Embarcação em
madeira duvidosa, rudimentar, bem entendido, mas que para eles significava a
liberdade de um passeio pelo Tejo e, sobretudo, o desafio de um velejar como se
de profissionais da arte fossem. Não eram, de facto, mas a paixão estava lá,
esteve sempre. Construído o dito, com um pequeno mastro a preceito, houve que
lhe colocar a vela. Para isso, segundo a história que me contou tantas e tão
boas vezes, nada mais simples do que ir à gaveta da cómoda da tia Rita e de lá
sacar um belíssimo e grande lençol branco. Bem pensado e melhor feito, aí estão
eles em pleno Tejo, à bolina, porque para marinheiros assim feitos, navegar é
preciso. No estuário do rio, a coisa ia às mil maravilhas. Vento de feição,
ondulação chã e prazer satisfeito. Mas, há sempre um mas, aproximava-se a
barra, a saída para o mar, o crescendo da onda, o vento incerto, no sítio onde
o doce se confunde com o salgado, e lá foi tudo por água abaixo. Vela caída,
espécie de barco à deriva, umas botas novas, lindas, dizia-me ele, compradas
dias antes pelo pai Oliveira, desaparecidas no turbilhão das águas e o sonho
acabava-se ali mesmo. Atrapalhados, o susto era já medonho, eis que pela
frente, vindo do mar, lhes aparece o navio “Rio Antuã”, qual salvador de
odisseia com tudo para afinal correr mal. Felizmente acabou por correr bem.
Recolhidos pelo navio, regressaram a casa sãos e salvos e com estória para
contar. Em conclusão, uma lição de vida, pois que de colaboração marítima
tiveram pouco, de amparadores tiveram muito, e os seus sonhos e exageros –
apesar de tudo – bem mereceram ser perdoados. O outro ensinamento, que nunca ao
meu pai esqueceu e que dele herdei por direito próprio, foi este: há coincidências
em que se pode ler um enigma que se não destrinça. Coisas que não se explicam,
mas que existem. Abençoados “Rios Antuã”! Abençoado Pai!
Mário Rui
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