Falo-vos
da cegueira e desatino dos tempos que correm porque são destinos a que alguns
se habilitam envergonhando a nobreza da nossa terra. Cuidem-se as estrelas os
cometas e até os planetas pois mesmo o Céu já foi injuriado por esta ânsia de
apetites aconchegados nos mais ocultos segredos deste mistério que hoje é
Portugal. E assim dito e melhor pensado, de outro modo não o escreveria,
aproveito também para, tendo em vista atender ao termo da sofreguidão desta
sede que nunca se farta, acrescentar que é altura de correr as cortinas, para
cima, bem entendido, de feição a que possamos mostrar ao Mundo esta nossa
triste história chamada de passado, presente e quiçá futuro. Nós, os de cá, não
gostamos mesmo nada deste curso reviralho que nos infligem mas os de fora
rir-se-ão a bandeiras despregadas com este carácter dos coveiros nacionais,
força discreta o suficiente que actua directamente em rede e cuja pujança
indemonstrável é de uma grandeza tão irredutível, mas tão irredutível, que
sentada, de pé, caminhando ou fazendo o que quer que seja, só edifica em altura
e volume a vileza em que se tornou este português pântano de saqueadores.
Quando a maioria finalmente decidir a favor da abolição desta imoral maneira de
maltratar os outros, inteiramente injusta e desnecessária à vida que levamos,
talvez aí possamos sonhar com país onde o futuro da democracia e da moral deixe
de ser pessimamente projectado através dos livros escritos por estes ladrões de
estrada. Mas votando, ou melhor, talvez até não votando, mas decidindo apenas
(pois eu tenho a impressão que no que toca a voto, e se acompanhados por esta
seita de mercadores, apenas vejo nessa forma de escolher agressão mortal à
democracia e à liberdade) ainda havemos de tomar providências efectivas de modo
a que possamos ter de volta toda a quantia que nos roubaram e, ao mesmo tempo,
cautelas para que não sejamos novamente roubados. Gente assim, que come à má
fila no restaurante dos outros, e fá-lo muitas vezes, tem o mau hábito não só
de ingerir o alimento como o de comer o próprio cardápio e se esta prática nem
com cárcere se esfuma, como é que há-de desaparecer com o tempo? Cuidemo-nos,
pois!
Mário
Rui
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