Não
sei, também não é importante que saiba, quem votou para os prémios da FIFA
entregues hoje. Há no entanto uma constatação inequívoca a reter. Desde logo a
supremacia em termos de distinção para técnicos e jogadores alemães o que, não
querendo dizer que não a mereçam, me causa alguma estranheza. Parece-me que
nestas peças há sempre uma parte típica, às vezes intraduzível, e que pela sua
natureza íntima faz esquecer outros tantos com igual ou mais mérito para estas
obras. Mas enfim, quem pode manda e, assim sendo, o resto da plateia que se
contente com elementos, artísticos sim, mas de categorias subalternas.
Outra
nota a salientar tem a ver com a língua de que cada um dos premiados se serve
para dizer o que sente. Todos o fazem na sua língua de origem, e bem, pois
mostram o que ela tem de raro e finamente original, sendo que no caso da
portuguesa se recorre abundantemente à fuga da corrente de vida indígena que
nos devia ligar ao resto do mundo. A nossa marca distintiva, a verve do diálogo
lusitano, o imprevisto de certos lances linguísticos, o jogo cénico de falar
portugalidades, é algo que só nos assiste por encanto de breves e quase sempre
esporádicos episódios, vá-se lá saber porquê. Será que dizer em português
ameaça a integridade do lar e da família? Será a nossa língua objecto
macarrónico de tradução? Ou será que traduzir neste caso é, para alguns,
concessão separatista? Bom, é verdade que qualquer transplantação diminui
literariamente o que se explica aos estrangeiros, mas então decidam-se. Ou
falamos na língua de Camões ou então não digam que são de cá. Fiquem calados ou
expliquem-se por gestos, mas nunca esqueçam que falar em português é
seguramente um excelente lugar de cultura, mesmo para os que não nos entendem.
Ah,
não me esqueci, não. Ronaldo ganhou mais uma bola de ouro. Parabéns Ronaldo,
parabéns Portugal. És grande rapaz e serás muito maior quando os teus encantos
e cantos de grande autor da bola mostrarem ao mundo os dotes artísticos de um
Portugal que diz como Pessoa «a minha pátria é a Língua Portuguesa». Quer
durante os começos, intervalos e não só no epílogo da merecida festa, na última
parte do discurso, na qual se faz uma leve recapitulação das razões principais
que nele entraram. Sempre em bom português já que só isso fará de nós boas suficiências
hereditárias. Quanto ao estranho grito de guerra, não o percebi, mas também não
tem importância pois se isso quis significar o génio da nação, então mereces de
novo o meu aplauso. Gosto de gente que puxa por nós e esse grito teve
fragância. Parabéns, outra vez!
Mário
Rui
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