Não
vi em directo as respostas dos dois candidatos, Passos e Costa, dadas ontem à
noite aos jornalistas dos canais de TV.
Optei
por ir jantar com amigos a sítio costumeiro, local de resto onde sempre
promovemos debate sobre a terra e o país que nos habita. Debate, disse bem.
Felizmente que não há por lá «entrevistadeiros» como os que depois vi na
pantalha televisiva, através de gravação, no correr do dito concurso de
perguntas e respostas.
Digerido
o repasto mais o debate entre amigos e engolidas depois as celebrações e
diabolizações vistas e ouvidas, das quais não me apetece fazer juízo, há uma
coisita que me ocorre e que é esta ; não assisti a qualquer ‘debate’ pelo que
recomendo vivamente às televisões que hoje, ou amanhã, mostrem ao país um
desses a sério que teve lugar em 1975, entre Soares e Cunhal. Embora desfasado
no tempo e no conteúdo, seria uma monumental forma de mostrar a Portugal, às
próprias televisões, aos jornalistas e aos candidatos, como manejar a
ferramenta jornalística e o desempenho de quem responde em proveito do
espectador. Falo de educação e informação para todos já que esta nova revolução
de mentes ditas comunicacionais que ontem presenciei, cada vez mais cava um
abismo entre a população que quer perceber, em vez de o preencher. Perguntas
ensanduichadas para respostas compactadas fizeram com que assistíssemos não só
à contracção do tempo e do espaço como também, lamentavelmente, à sinestesia de
todos os nossos sentidos. Não sei se isto é a imposição de um modelo
estrangeiro, mas a verdade é que tanta instantaneidade, pressa de palavras,
imediatismo no acto de questionar e retorquir e fandango «entrevistadeiro» a
três tempos, foi só um conflito de interpretações que a ninguém serviu. A
compreensão dos que viram tal concurso de perguntas e respostas, que não
debate, ficou menos forte uma vez que hoje, no meio mediático, vale muito mais
a ilusão da concisa expressão de quem debate do que a real faculdade de se dar
a conhecer o que se debate. Culpa da televisão, mas também culpa de quem
concorda em sentar-se em palco informativo onde o virtual supera a realidade.
Em jeito de hibridação de valores, também gostei muito daquele tratamento
pessoal - quase tu cá, tu lá - utilizado pelos «entrevistadeiros» quando se
dirigiam aos dois políticos; “- Costa, diga-nos lá….”, “- Passos Coelho,
explique-nos como é que …”. Fandango puro!
Terá
razão Guy Debord quando na Sociedade de Espectáculo refere “o nosso tempo, sem
dúvida… prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à
realidade, a aparência ao ser…”?
Mário Rui
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