Só
eu sei da dificuldade que me assola a propósito de emitir opinião pensada, e se
possível sensata, quanto ao acolhimento a dar aos que procuram afectos e melhor
pátria onde possam viver em paz. Se é certo que de entre os que fogem de países
em chamas muitos não buscarão mais do que paz, outros terão encontrado porta
aberta por onde livremente possam passar ódios e revoltas interiores e desse
modo as venham a pôr em prática, desassossegando os que estão deste lado
europeu, sítio onde civilização ainda é, para nosso contentamento, designação
dada a uma ortodoxia que mantém traços do seu propósito original, ou seja sítio
onde humanidade não é sinónimo de coisa decaída. É muito bom, pese embora um
outro rol de sacrifícios que também nós trilhamos, podermos gozar de uma Europa
que todos os dias mostra um Sol que brilha de novo e uma Lua que sai todas as
noites. Não sei se os que nos batem à porta alguma vez tiveram oportunidade de
viver assim, não sei sequer se em qualquer dia tiveram ocasião de ficar alegres
com o seu próprio Deus. Sei de coisa diversa e que se resume a uma
solidariedade que, não podendo no meu caso oferecer cama, mesa e roupa lavada,
ainda pugna, no mínimo, pela defesa e respeito de uma esperança que não
desiste, mesmo em face do desespero, uma fidelidade que acredita no quase
inacreditável tal é o tamanho de quem por ela luta. Abomino, a exemplo de tanta
gente, os que não nutrindo gratidão alguma para com o semelhante assim se vão
arrastando para cá apenas com o sentido de nos porem a ferro e fogo.
Terroristas fanáticos que são o supérfluo, o excedente da sociedade, loucos aos
quais oferecemos todas as nossas razões pelas quais somos cristãos e mesmo
assim essa turba encontra nesta oferta todas as razões para nos dizerem que não
o devemos ser. Pois que permaneçam por lá, pela terra que os viu parir e se
possível em constante reflexão, não néscia, o que eu acho improvável mas talvez
um dia aconteça, na companhia do seu profeta. Aos demais de que antes falei,
pacíficos em fuga, acho que lhes é devida pela Europa da cultura e dos vínculos
fraternos, uma oportunidade de enquadramento sólido e fiável e talvez assim
fiquemos todos a ganhar. É a perspectiva desta vantagem que faz com que as
partes se interessem pela discussão, disputa, compromisso e acordo de modo a
que o resultado final garanta um estar social mais feliz para a humanidade. O que
é doloroso é não alcançar um destino digno e simpático para todos os que o
procuram e é bom que não esqueçamos os que querem mudar de lugar posto que se o
fazem é porque já o perderam noutro sítio. Até connosco isso acontece e quem
procura melhor bate-se pela felicidade possível. Ou não?
Mário
Rui
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