Em
23 de Março de 2015, escrevia assim. Hoje, 27 de Maio de 2018, ainda é como
então. (LER
AQUI)
Continua
a sacrificar-se o porto do destino aos acasos da derrota, e por isso o porto
não se atinge e a viagem segue incerta, indecisa, à mercê do que não se fez e
não se faz por gente que nem sequer se atreve a fitar em cheio, pupila a
pupila, o que há a fazer!
Gostaria
de não ser tido, pelos outros, como alguém que só vislumbra fantasmas na
própria sombra, alguém que só vê coisas erradas a partir da minha própria
consciência. Gostaria pois que assim fosse já que, podem estar certos os meus
amigos, ler equações ao contrário nunca foi o meu forte, daí que nunca me tenha
dado para reduzir o realismo a meras imagens fictícias mas, ao invés, continuar
a crer que tudo o que me resta é o mundo tal como o experimento. Vem isto a
propósito do que aconteceu há dias na estrada que liga a vila da Torreira a S.
Jacinto-Aveiro, troço que assistiu a mais uma tragédia quando um automóvel e
ocupantes foram engolidos pela Ria de Aveiro. Bem sei que o acidente está
sempre à espera de uma oportunidade, ainda que algo seja feito na esperança de
o evitar. Mas também sei que muitos conhecedores dos riscos que qualquer
estrada comporta, e nomeadamente o troço antes referido, olharão mais
intensamente para as coisas que fazem o ego gordo e grande do que propriamente
para os amparos que deveríamos ter para guiarmos a nossa jornada. E é esse ego
egoísta que não deixa aguçar a atenção aos pormenores cruciais. Assim vista a
coisa, de bom grado trocaria rotundas incansáveis, mecos fosforescentes sem
fim, centenas de postes de iluminação que nunca deram luz, pistas cicláveis
delirantes e excessivas, pegadas elefantinas de outros devaneios, tudo isso eu
trocaria por mais uns quilómetros de resguardos que preservassem a nossa
existência, acautelando assim, ou evitando mesmo, os golpes da vida. E se
poupassem uma só vida que fosse, já ficaria contente por não se tratar de vã
pretensão e feliz estaria com a consciência dos que procedem bem, desprezando
assim toda a “assistência” dos objectos supérfluos em lugar dos que fazem
verdadeiramente falta. Essa é que deveria ser a voz do orgulho e em estrada de
vida que há tantas décadas reclama mais protecção - amigos tive, já no século
passado, que por lá ficaram suspensos ante o precipício - suprimentos destes
reduziriam de certeza essas fantasias que por aí grassam à insignificância que
as caracteriza. Mas enfim, enquanto o ‘progresso’ se confundir com essa feira
das vaidades, vai ser difícil perseguir atinadas transformações.
Mário
Rui
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