Sendo certo que, hoje, aos
professores, não compete o encargo de uma herança de triste memória do que foi
época escolar de cana, mão pesada e palmatória em riste, também não é menos verdade
que, aos alunos, deve ser vedada essa vergonha inqualificável dos que vão ao
estudo apenas para
testar recursos físicos. Daí que, enquanto se continuar a permitir que em algum
Ensino conviva o que está melhor com o que está pior, a escola continuará a
parecer um interminável sítio de pleito. No entanto, há que dizê-lo, a parte
maior dos que ensinam ainda se arroga, e bem, à ousadia de encher de impossíveis
a cabeça de gente violenta que não quer aprender. Nos tempos que correm é acto quase
heróico, desde logo porque se substituem aos encarregados de educação/família/meio,
no esmero dos visados que a esta trilogia deveria competir. Entre nós, falemos
francamente, a vingar esta desordem, a ordem escolar corre perigo. E, pese
embora o facto do docente ter batido no aluno, o que está mal, atente-se bem no
que está ainda pior: alguma sociedade cabisbaixa e desinteressada destas
questões e um Estado humilhador do ensino actual. E se não se escuda o
professor que tem o direito de se fazer obedecer,
um dia serão os maus alunos a sentenciar-lhe uma dúzia de palmatoadas, algumas
horas de joelhos, ou uma penitência longa de frente para a parede. Aí sim, a Escola
ficará nas mãos dum pessoal abstruso e ignaro, descultivado e indiferente. Ora,
o surgimento dum tal método de instrução pública, a não ser travado, põe-me de
alarme.
Mário Rui
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