Fernando
Assis Pacheco
1
de Fevereiro de 1937, Coimbra / 30 de Novembro de 1995, Lisboa.
Não
fosse a vida coisa fulgurante que nunca diz aonde vai cair, estaria hoje a
comemorar 83 anos.
LÍRICA
DE PARDILHÓ
Então
acordo e sinto a meu lado
o
esplendor tranquilo
da
amada que respira
adormecida
deitada sobre o flanco
vertendo
a prata dum sorriso
nas
ravinas da noite
esferas
cantam a alegria
é
um sítio de grama rociada
e
passam horas
durante
as que da rua
ouvindo
vozes turvas
eu
ficarei teimando
na
claridade a todo o preço
de
que me falam aves
Incluído
em "A Musa Irregular", 1991.
ÚLTIMOS
DESEJOS
Quero
voar como os anjos
quero
lavar os dentes com triflúor
quero
o Belinho sem o Oliveira
quero
cornear o duque de Kent
quero
250 de Platão bem passados
quero
a destreza do okapi
quero
ir ao Douro às vindimas
quero
pagar com letrasset
quero
vestir de linho (e do Veiga)
quero
ser primeiro no Mundial
quero
pudim francês com caramelo
quero
ler um cabinda em verso branco
quero
uma sequóia para o quarto
quero
voar de Spitfire
quero
esmurrar o Marcel Cerdan
quero
a Maja Desnuda
quero-te
de bicicleta
quero-te
outra vez de bicicleta sobre as folhas
quero-te
ouvir chegar de bicicleta
quero
o som macio que fazia na mata a tua bicicleta
Fernando
Assis Pacheco em "Variações em Sousa", 1987.
Incluído
em "A Musa Irregular", 1991.
Mário
Rui
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