Publicado
em 2012. Insisto por me parecer que pouco terá mudado. Se estiver enganado,
penitencio-me. (LER
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Li,
ou ouvi, ou terei sonhado, também não importa, que a tragédia ocorrida a 1 de
Novembro de 1755, por volta das 9h30, quando Lisboa foi atingida por um
violento terramoto, não terá trazido muitos ensinamentos em termos de prevenção
e regulamentação que viesse a melhorar a segurança do edificado da cidade. O
mesmo é dizer que, a acontecer situação idêntica, o mais certo é que, segundo o
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, um previsível terramoto venha a matar
entre 17 mil e 27 mil pessoas, mas essa estimativa peca por defeito. São
acidentes naturais, difíceis de prever e que sempre deixam pouca margem de
controlo, especialmente quando já em presença dos mesmos. Em 1755 assim foi e,
dado o desconhecimento das técnicas mais seguras para fazer frente a uma
catástrofe deste tipo, o resultado foi trágico. Estima-se que terão morrido
cerca de 60 000 pessoas. Dizem que passado o terramoto, o Rei terá perguntado
ao Marquês de Pombal o que se havia de fazer. Terá respondido ao monarca; «...
sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos». Percebia-se o que
queria dizer o Marquês; sepultar os que se haviam finado e cuidar dos
sobreviventes. Quanto a ‘fechar os portos’, a expressão só significaria que não
seria prudente deixar as ‘portas’ abertas para que novos problemas viessem a
surgir ou ‘vir de fora’, enquanto estivessem a cuidar e a salvar o que restava
de tão funesto acontecimento. Teria certamente o Marquês em mente que a
prioridade era a reconstrução e o novo. Volvidos 257 anos, e a julgar pelo que
dizem os entendidos, muito pouco se quis fazer, e sublinho “se quis fazer”, uma
vez que os dados disponíveis assim o demonstram. Em Julho de 2010 todos os
partidos votaram, por unanimidade, uma recomendação ao governo, para que se
criasse com urgência um plano nacional com vários pontos decisivos: redução da
vulnerabilidade sísmica das infra-estruturas hospitalares, escolares,
industriais, governamentais, de transportes, energia, património histórico e
zonas históricas dos núcleos urbanos. A resolução recomendava ainda ao governo
o reforço do controlo da qualidade dos edifícios novos e a obrigatoriedade de
segurança estrutural anti-sísmica nos programas de reabilitação urbana. Mais de
dois anos depois, o(s) governo(s) não fez nada: limitou-se a propor um modelo
de seguros, para indemnizar os prejuízos materiais dos sismos. Estou plenamente
convencido que será medida ainda pior que o próprio sismo. Pelo menos para os
atingidos pelo mesmo. Para outros, como de costume, ouro sobre azul! A
Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica, num parecer enviado ao parlamento,
reagiu com indignação: «a opção do governo é ineficiente, eticamente condenável
porque não se preocupa com a salvaguarda da vida humana e contraria a resolução
da Assembleia da República». Eticamente reprovável. Leram bem? Mas afinal
haverá alguma cousa eticamente louvável que assista a esta gente? Toda ela sem
distinção, digo eu. Pouca, muita pouca coisa!
Redução
da vulnerabilidade sísmica das infra-estruturas hospitalares, escolares,
industriais, de transportes, energia, património histórico, zonas históricas
dos núcleos urbanos, etc, etc, etc, não conta para nada. O reforço do controlo
da qualidade dos edifícios novos e a obrigatoriedade de segurança estrutural
anti-sísmica nos programas de reabilitação urbana, também não convém. O que
convinha mesmo, e foi feita, era a obra de reforço anti-sísmico do edifício da
Assembleia da República. Quando o sismo chegar, esta espécie humana e em número
apreciável que habita a casa, há-de vingar em detrimento dos médicos nos
hospitais, dos professores e dos alunos nas escolas, das forças de segurança,
dos meios de socorro e por aí fora. Até em presença de aspectos que parecem ser
de somenos importância – parecem mas não são -, quando valiosos para gente do
calibre da maioria dos nossos políticos, até nisso esses espíritos metódicos e
calculistas são ordinariamente os menos solidários e respeitadores da condição
humana dos outros. Dá que pensar, não? A mediocridade é o elemento mais
saliente desta casta. A acontecer uma tragédia sísmica, e rezemos para que
nunca se faça sentir, os moradores da AR ficariam para reconciliarem os mortos,
para tratarem das montanhas e serras que dão abrigo aos vales. Eu duvido muito
é que tal estado de coisas viesse a renascer das cinzas e se renovasse pela
morte de tantos portugueses úteis. E também já não se “fazem” reconstrutores do
tipo Marquês de Pombal. Agora já só há imitadores! E, mesmo assim, péssimos.
Mário
Rui
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