Os carros de luxo que
o Estado se propõe sortear entre os contribuintes no sentido de tentar minorar
a evasão fiscal, são um verdadeiro presente envenenado. A ideia de um incentivo
ao cumprimento fiscal até pode ser boa quanto à forma mas nunca relativamente
ao conteúdo. Mais uma vez o governo apenas pensa no benefício dos cofres do
Estado, veja-se o preço/impostos associados ao custo do combustível que faça
andar o pópó, o caríssimo seguro obrigatório, as altíssimas taxas rodoviárias, o
obsceno imposto de circulação, o IVA com despesas administrativas, as
inspecções obrigatórias e taxas correspondentes, para já não falarmos dos
custos de manutenção, pneus, conservação da viatura, etc, etc, etc. É triste
que este propalado incentivo à observância tributária apenas equacione as
vantagens de quem as atribuí e nunca esteja verdadeiramente virado para os que
deveriam de facto ser beneficiados. Mesmo trazendo à liça a ideia de que “a
cavalo dado não se olha a dente”, o que resta de uma análise mais cuidada ao
assunto, e já que falei em dentição, é que estamos de novo em presença de um
Estado odontológico pois que especializado na extracção pela tortura. Dirão uns
que se o Estado “faz” é criticado e se o Estado “não faz” criticado é. Pois,
está bem, mas eu gostava que me explicassem como vai fazer o cidadão na
bancarrota, pessoas na sua maioria a lutarem pela sobrevivência, para pagar tão
alto preço por mais uma corrida para o abismo. Somos portugueses, somos assim,
temos uma atracção desenfreada pelo precipício mas o que é ainda mais
lamentável é que seja o próprio Estado a mostrar-nos o caminho para a queda.
Serei eu do contra ou será que ninguém percebe este “prémio” como sendo mais um
vindouro endividamento pessoal mas mascarado de felicidade dada a cada um dos
contemplados? A menos que o presente se destine só aos muito ricos! É que
contas feitas, dizem os especialistas, o pópó vai custar mensalmente, entre
manutenção/utilização, qualquer coisa como 365 euros. Ora, questiono de novo,
um sério estímulo ao pagamento dos impostos que nos martirizam não seria antes o
direito do premiado a deduzir no seu IRS o valor do prémio ou não pagar alguns
impostos e ser devolvido o IRS descontado pela entidade patronal? Ou então,
porque não oferecer o próprio valor do carro aos bafejados ou ainda a opção por
uma outra qualquer solução financeira? Alguns falam-me dos exemplos semelhantes
seguidos por outros Estados nesta matéria. Sim? E eu quero lá saber da sopa do
vizinho, interessa-me é saber que caldo como eu em cozinha tão tristemente vazia
quanto a nossa. Não me parece caminho bem pensado este de conteúdo tão encantatório
quanto falacioso. Governantes do país; não alcançar um destino considerado por
todos digno e atractivo é uma experiência dolorosa! Mesmo que tenham boas
intenções, nas quais eu confio desconfiando, acho que a continuarmos por este
trilho não vai existir mercado para os projectos a longo prazo de uma “sociedade
tributário-contribuinte” . E se for eu o feliz contemplado? Que ninguém se
preocupe com isso. Para mim, o «ter» ainda permanece o humilde servidor do ser.
Se sair a outros, desejo-lhes boa viagem, mas com um aviso; procurem não fazer
do pópó mais um exemplo da doentia inclinação dos meios para se tornarem em
fins. Ou no FIM!
Mário Rui
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