Moliceiros
da ria de Aveiro vão passar a ser elétricos (LER
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«Amanhã
tudo será apenas uma saudade para os nossos filhos e uma lenda para os nossos
bisnetos»
Sou
dos que não gostam de ver a tradição de boa índole dissolvida ainda que para o
efeito uns tantos me acenem com os impressionantes ventos do novo pensamento,
sobretudo do turístico. Sou ainda dos que acreditam que o legado deixado por
essa mesma tradição pode e deve servir justamente para a perpetuar, não para a
desvirtuar. No entanto, é uma pena que alguns tenham sido informados de que
podem usar os símbolos que lhes apetecer, desde que estes não tenham
significado algum para eles, e, pior ainda, nos façam pensar que todas as
partes do que fomos e somos começam a ficar separadas umas das outras
tornando-se gélidas. Ora, se já lhe tiraram o vento, se lhe roubaram a vela, a
vara e a sirga já se foram e o castelo da proa tem os dias contados, porquê
insistir em chamá-lo de moliceiro? Chamem-lhe outra coisa qualquer, mas jamais
moliceiro. Ponham-na na água, passeiem-se pelos lindíssimos canais urbanos da
Ria, deliciem-se com as belezas de Aveiro, mas não promovam a morte acelerada a
que está sujeito o nosso Príncipe. E quanto a essa fórmula empírica, a motor,
porque agora anda tudo a motor, de captar turismo e desenvolvimento económico à
custa da cópia fraudulenta do ex-libris da Ria, só me ocorre dizer que, mal por
mal, é preferível que o genuíno moliceiro "vá antes a caminho do Museu do
que direito a destroços deste naufrágio a que o tempo tirano de agora tudo
imola". Salvar-se-á, pelo menos, a memória colectiva de uma região. E não
é pouco. De outro modo, qualquer dia estão a dizer-nos que a massa doce de
ovos-moles é, de tradição, feita com fígados de aves gordas e que o mundo não é
redondo. Mas não incorramos no risco de nos danarmos – só porque algum Turismo
é tolo! Vejam lá se ele conseguiu modificar a forma às gôndolas, pese embora
todo o progresso, se feito de ternura e condescendência. Mas isso foi lá fora.
Cá, o mais que algum progresso tem feito, é mudar o feitio a certos papagaios.
Mário
Rui
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