O povo vai rezar a Fátima e há por aí quem trema
de pavor porque o povo não devia ir rezar a Fátima. O povo vai rezar a Fátima e
eles acham que o povo não se devia condensar por toda a banda de Fátima numa
grande pacificação de oração. E fulgem das mãos dos crentes cardumes prateados
de estrelas e eles acham que o povo não devia acender chama em Fátima. Eles
acham que é luz mortiça que nem é bem a da madrugada, nem bem a da noite. O
povo fica num dócil estar de fé e eles acham que isso é uma imobilidade
misteriosa e sinistra. Depois o povo ajoelha em prece à medida que trilha a
ladeira do culto e eles acham que isso é um perder de passos e paciências. O
povo acena com lenços brancos de um lado e de outro e eles acham que o povo se
fecha assim bruscamente em horizontes limitados. Eles acham tudo e mais alguma
coisa. E tentando impor opinião e fronteira severa de construção que apenas
deixe aos crentes grade de arame por onde possam espreitar o seu crer, qual
rebanho cercado por urtigas bravas, eles acham por dever dizer ao povo que o
povo é uma ingenuidade infantil. A esse tempo o povo tem um momento de enfado,
não lhe agrada a conversa, acaba com ela e com eles, e diz o povo; “nunca demos
nada pela vossa fé”. E fitando fixamente os olhos negros daqueles a quem a
insensata desatenção nunca deixa aos outros a esperança de acreditar, o povo,
vencido pela fadiga, deixou-se adormecer justamente quando as certezas
discursivas dos ‘eles progressistas’ iam no seu pior episódio, altura em que a
conversa já era uma perda de tempo e portanto descansar em paz na companhia de
uma fidelidade feita profecia não era uma perda de tempo. E este foi o comento
breve de um orar em Fátima, para uns com dogmas, para outros com intolerantes
preconceitos.
Mário Rui
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