Velha
crónica do passado que vai ser futuro (LER
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Vogamos
em maré de rosas, estamos em plena festa há muitos anos. Logo, os penachos
continuam a ondular, os astutos galopam, o pé-de-meia cintila e as mordomias
rolam majestosamente. Tudo como dantes. Daí que, traçado este retrato do ano
que vai acabar, e de muitos outros que a seu tempo se finaram e com a mesma
fisionomia, chegará seguramente mais um opulento de promessas. Chamar-se-á
2020, mas será afinal mais do mesmo. De resto, neste teatro de comédia e de
cadeiras reservadas, a distribuição dos bilhetes de entrada vai dar de novo o
triplo dos lugares que a sala comporta. E o indígena espectador, de nariz
arrebitado, ainda que de lábios gretados pelo nordeste que lhe varre os dias e
mesmo de coração já desopilado, voltará a assistir e, pior, a aplaudir radiante
o desfilar desta tropa fandanga. É o ‘fado’ desse nativo que o impele a ir
pascer os seus olhares curiosos no augusto recinto desta comédia nacional.
Mesmo com a desventura de sentar-se no barato da galeria pública, ele bate
palmas a todas estas subtis malícias dadas à cena. O que podemos nós fazer
quanto à erradicação da gula de uns e aos aplausos dos tolos? Já pouco, pois o
que resta, em desespero de causa, será afiançadamente ousar pedir aos poderes
públicos – aqueles que ainda não são também enxame verminoso - que, no mínimo,
anunciem previamente nos jornais, prevenindo em especial tais tolos, que a
reprodução assombrosa de patifarias é o que têm de mais certo no correr do ano
que vai chegar. Ou então um anúncio de página inteira, todos os dias, onde se
poderia ler; “cuidado, tolos, não tirem os olhos da mão com que alguns seguram
o baralho. E atenção também à importância posta no lance”. Mesmo assim, aviso
que não se deveria concluir que tudo viesse a ser melhor, à vista do muito mau
que nós já temos. Mas tentar, não custava!
Mário
Rui
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