Em
Portugal, toda a votação em acto eleitoral passou a ser uma espécie de jogo,
como o de damas ou o gamão, um jogo com o incerto e o errado, com nenhumas
questões morais, acto naturalmente acompanhado de apostas como se de uma
corrida de galgos se tratasse. Dou o meu voto, talvez, ao que considero mais
capaz, mas estou fatalmente condenado a assumir que este meu direito não
prevaleça! Não me disponho a isso mas a verdade é que me obrigam a entregar a
minha preferência nas mãos de uma minoria usurpadora. Por muito que custe a
essa cáfila intrusiva que tem inferioridade em número, o carácter e o voto dos
eleitores que dão uma maioria não se discute. E a minha decepção com este
sistema falacioso de representatividade radica na certeza de que um governo
surgido de uma eleição popular, de facto não vale. O que vale são os
desconformes egoísmos dos que se alimentam de miseráveis expedientes para
chegarem ao poder. Afinal, a razão prática por que se permite que uma maioria
governe, quando o respectivo voto do povo finalmente se coloca nas mãos do
povo, não é a de que essa maioria esteja provavelmente mais certa, nem a de que
isto pareça mais justo para a minoria, mas sim a de que a maioria é política e
até fisicamente a MAIORIA. Mas, assim, eleições para que vos quero se afinal a
verdadeira vontade dos eleitores não conta para nada? Com esta reles forma de
pôr a governar os derrotados em eleições, institui-se pois nova regra de
sufrágio; os votos jamais podem exceder as conveniências dos que perdem.
Bonito, muito bonito! Da próxima vez que me pedirem para ir votar, irei com
toda a certeza, mas apenas com uma convicção. Não a de tentar somar parcela à
formação política que eventualmente me agrade, isso já não adianta, mas antes
subtrair convictamente votos aos que, enquanto houver tutano, fazem manguitos
aos eleitores sérios. Ora adeus! Entretenham-se com outros tutanos!
Mário
Rui
___________________________ __________________________
___________________________ __________________________