Chama-se Dennis Hope,
é americano, não podia ser de outro lado, e diz ser o verdadeiro dono da Lua.
Afirma ter em sua posse documentos oficiais das autoridades dos EUA que atestam
da propriedade a que se arroga o direito de lotear pedaços e, vai daí, como
zeloso senhorio do sítio, o seu negócio é vender terrenos lunares. Mais
espantoso ainda é haver gente que lhe vai adquirindo parcelas do nosso
satélite, transacções que já lhe terão rendido qualquer coisa como 4 milhões de
dólares, o correspondente a cerca de 611 milhões de hectares de solo que,
presumo eu, deva ser propriedade urbana. Há tratados que proíbem expressamente
que qualquer Estado reclame a soberania da Lua, particularmente o Tratado do
Espaço Exterior, aprovado pela ONU e ractificado por mais de uma centena de
países. Ora, como tal convenção nada refere a propósito de um qualquer lunático
que em nome individual se queira apropriar do solo galáctico, o senhor Dennis
tomou-se de agente imobiliário e vamos lá ao comércio. No fundo, esta
excêntrica e incomum história acaba por se revelar, apesar de tudo, mais
sincera do que o que se poderia esperar. O homem não estará a mentir
relativamente à oferta de venda do chão do satélite natural da Terra, afinal
para ele e respectivos compradores, quem sabe, um pouco as suas segundas casas
no espaço. Se a coisa é conforme à lei da Terra ou não, isso é outra discussão
que para aqui não interessa trazer. O bem em apreço é este e só compra quem
quer, sabendo de antemão ao que vai. Assim, trago esta história a terreiro
tão-só para que possamos avaliar do modo como a mente humana parece não ter
fronteira que a trave na sua avidez por magnanimidades, agora até as do Sistema
Solar. Ao que sei, em Portugal ainda não apareceu interessado que queira resgatar
um naco desse solo lunar, o que não significa ausência de visionários parecidos
com o nosso amigo americano. Se esta constatação vos parece irreal, então
reparem no ‘modus operandi’ de tais lusos utopistas. Muito mais astutos que o
senhor Dennis, encarregaram-se os ditos de, antes de tudo, publicarem a obra
intitulada “A Teoria dos Sentimentos Morais”. E o que diz este tratado? Pois
bem, para além de outras brilhantes partes deste ambicioso e muito cívico
projecto, se calhar até literário, pode-se também atentar em capítulos que
versam o desenvolvimento da profunda amizade e intimidade que os autores da
Teoria dedicam aos seus compatriotas. Desde os princípios da boa economia
financeira até à política económica, está lá tudo. Tendo a obra começado por dissecar
filosoficamente estes assuntos, acabou em volume escrito prático onde se
ensina, pela mão de figuras prestigiadíssimas dos círculos da finança, como
abrir as portas da corte e dos salões. Deve ser notado, também, um outro lado
da Teoria onde se fala da remuneração do capital, do princípio do bom juro,
juro dos autores que não de outros, associados às acertadas decisões de
investimento para, depois, ir parar ao verdadeiro sumo da publicação, ou seja,
à produtividade do capital próprio. Em suma é livro que contém uma síntese
abrangente da evolução económica/financeira operada ao longo de muitos anos em
Portugal. No contexto da obra tudo o que se pode dizer é que se trata da
narração empírico-histórico da teoria do crescimento de uma Nação. Não fui capaz
de levar até ao fim a leitura de tão grande tratado da arte de bem cavalgar
todo o tolo português mas, julgo, por ter posto os olhos a páginas tantas, ter
visto uma farta secção dedicada ainda à racionalidade da engorda financeira de
alguns banqueiros, imaginem, via superestrutura do arreigado sistema mandante
cá de dentro que deu ser a muitos dos ilustres responsáveis pela actual
fascinante obra que nos ilumina o futuro. E qual é então a similitude entre o
dono da Lua e os quiméricos criadores do estado a que o Estado chegou? É
simples: são ambos gente de vistas largas, mas se o primeiro se limita
eventualmente a enganar os ricos, aritmética de fácil resolução, já os segundos
declaram danos aos desarmados e guerra assim feita é não só mal feita, mas também
miseravelmente feita! Representa uma grande doença moral! São estas baças
intrigas da banca que ajudam sobremaneira à aflição da razão e da compreensão a
juntar à justiça e à verdade que parecem não se ofenderem com tais afrontas a
um pobre canto de terra, a que ainda se chama Portugal!
Mário Rui
___________________________ ________________________________