Fogo
fátuo, o dos que falam por imperativos meramente políticos.
O
outro, continua a avançar mas é fogo de excepção, diz o governo.
Esta
postura do “somos todos um”, em particular a que se dedica ao caudaloso e
improfícuo débito discursivo vindo das secretárias, cadeiras, gabinetes,
microfones, holofotes televisivos e demais autoridades, que nunca dos bombeiros
que pisam terra queimada, sobre o fogo de Monchique, deixa-me sempre dúvidas
quanto aos reais propósitos a atingir com tanto verbo. É muita gente a dizer a
mesma coisa e, curiosamente, ou talvez não, sempre no mesmo sentido. Parece-me
o chamado “grupo do elogio mútuo” a trabalhar mais por forma a acautelar danos
próprios do que a tratar realisticamente do fogo que tudo devora à sua frente.
Já dura há tempo que sobra o inferno e, com tanta conversa fiada pelo meio,
reservo-me o direito de começar a achar tudo isto coisa bastante completa de
estratégia e antecipada blindagem política. Couraça astuta para o que por aí
possa vir de crítica relativamente a quem, em dose desmedida, quer dizer o que
se passa mas sem que consiga explicar como se ultrapassa. Impossível tem sido
sempre encontrar de que lado vem o fogo, perceber o vento, entender o que fazer
para lhe cortar a lufada assassina. Por isso mesmo, talvez fosse oportuno calar
tanta cartilha ensaiada e começar finalmente a enfrentar o necessário;
progresso efectivo no combate às chamas, no terreno. É disso que precisamos,
esse é que é o veio de água do assunto. Precipitado ou espraiado, mas que
apague a incandescência que se faz sentir e que abafe tanta comunicação oral
que de muito intencionalmente repetida já não produz o efeito desejado; é um
político encher de boca, não para informar, mas para entreter, distrair! Quanto
ao fogo, esse continua vivo, como vivas continuam também as teorias revelhas e
as contradições e ninharias com que lhes povoam as entranhas quer o governo
quer as oposições. Tenham juízo, todos. Porque essas teorias olímpicas
ineficazes, se justiça houvesse, só teriam “valor” se vos sentassem no banco
dos réus, ao lado dos vossos cúmplices, porque tal assento, quer-me parecer,
não se fez para outra coisa senão para julgar uma mão cheia de pavões que sei
perfeitamente quanto valem e quanto querem valer, constituindo grupo que
governa e outro que quer governar.
Mário
Rui
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