Não
gosto do “dia das bruxas”, e acabou! É um direito que me assiste. Não gosto de
ver quem se satisfaz com aqueles propósitos, graves nos seus uniformes
fatídicos, como que em jeito de receber enterros, algo que ainda estou para perceber
de que modo se liga às tradições portuguesas. Dá-me ideia de um monte de gente
com ventres perfurados com facas de ponta e mola e nisto não consigo vislumbrar
mais do que deboche em tasca rasca. Eu bem sei que há alguma maldade em muitas
outras manifestações populares de regozijo, ainda que diversas desta coisa
importada lá dos “States”, mas odes a sangue e jeitos tétricos nunca foi trato
que aplaudisse. Até sei que também há crueldade no quotidiano, como há na
cleptomania, bebedeiras e outros vícios sem nome, mas o que posso eu fazer
quando vejo vampiros de hálito ardente e sequiosos no rasgar de uma mortalha,
cortando com uma navalhinha as camisas? Nada! Não gosto do “dia das bruxas”, e
acabou! Mas desejo fazer aqui uma pergunta muito simples e enfática. Alguém é
capaz de fingir sequer que aponta bom rumo a uma manifestação que nunca foi
tida nem achada como costume popular? Se me provassem que estes “foliões” têm
tanta razão para comemorar este fétido dia, como um limpa-chaminés tem para
andar coberto de fuligem, eu até curvava a minha obstinação diante de
semelhante “inteligente maldade”. Como ainda não me convenceram, não gosto do “dia
das bruxas”, e acabou!
Mário
Rui
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