As forças da autoridade que têm o dever de nos proteger são muitas vezes acusadas de usarem e abusarem da força em situações que nem sempre o justificam. Isso pode ser grave, mas grave é também o facto de elas viverem aparentemente isoladas, achando pretensiosamente que a imagem que o país e os portugueses têm delas não lhes interessa minimamente.
E só quando determinada situação – que acaba, naturalmente, por ser menos mediatizada do que a própria actuação (normalmente, carga) policial - começa a ser badalada na comunicação social e nas redes sociais por anónimos indignados e, por isso, a fugir ao seu controlo, se escondem então à margem de comunicados pouco esclarecedores que terminam invariavelmente com um “foi aberto um inquérito para apurar responsabilidades”.
Quero com isto dizer que a comunicação das nossas forças de segurança é fraca e isso é grave. É grave porque nenhuma instituição se faz credível sem uma comunicação clara, transparente e célere. Quer aos olhos dos públicos internos, quer externos. E depois, porque aos olhos dos portugueses que se deviam sentir protegidos, essa falta de comunicação e, portanto de transparência, gera desconfiança e insegurança.
E são inúmeros os casos em que a falta de comunicação das autoridades se revelou prejudicial para a sua própria imagem: dos incidentes no Dragão Caixa, ao pai desarmado com o filho ao colo que se queixa de abuso da autoridade, à jornalista da Lusa agredida durante uma manifestação em Lisboa, apenas para citar alguns.
Não me recordo, em nenhuma destas situações ou noutras, de nenhum relatório tornado público – e se o foi, pelos vistos não terá sido o suficiente - que justificasse as respectivas actuações policiais. A terem sido justificadas, teria ficado bem um comunicado - no mínimo - que esclarecesse cabalmente as razões de tal intervenção. A terem sido despropositadas, estaríamos perante um cenário de comunicação de crise que exigiria uma rápida actuação da administração em conjunto com os respectivos departamentos de comunicação.
Posto isto, não é de estranhar que cada vez mais nos sintamos inseguros face às autoridades que teimam em isolar-se e em não compreender e concretizar os princípios básicos da comunicação.
E quem não deve, não teme, não é?
Rui André