As ideias
aperfeiçoam-se e o sentido da festa também, o avanço implica-o. É certo que há
sempre os que acham que à medida que a verdade do arraial se esfuma a ilusão
aumenta. Eu acho que não. Se antes a romaria era feita de cores
predominantemente escuras, mas nem por isso menos celebrada, hoje é o colorido
que marca espaço. Vai valendo por agora uma imensa acumulação de espectáculos
feitos à maneira de um novo estar, celebração que em todo o caso não apaga a
memória de tempos idos, onde se fundem multidões num curso comum de modo a que
a unidade do festejo possa ser anualmente restabelecida. E é já secular este
conjunto de imagens numa relação social alegre entre pares. Se ontem foi mais
sóbria, mais vestida de casaco e colete, hoje os adereços decorativos
emprestam-lhe outras formas e quer se tenha tratado de dias passados ou se
vivam os presentes, a romagem somada à solenidade afinal não se finou, antes se
transformou. Tudo foi e é apenas resultado do modo de produção existente. O
conceito que unifica e explica os sentimentos vividos pelos antigos e pelos de
agora, com as suas diversidades e contrastes, deve ser reconhecido como verdade
geral que é cunho de cada uma das épocas vivenciadas. Só isso, porque em cada
página do S.Paio intemporal podemos sempre encontrar um sólido itinerário quer
seja de saudade pelo que foi quer represente admiração pelo que é. Teve e ainda
tem chancela de delírios, entusiasmos, amores e porque não liames, recheio
nutrido de coisas em que se acredita porque são convenientes ao nosso carácter,
ou não fossemos nós de cá. O simples nome dos que fizeram outrora a festa
deverá necessariamente corresponder ao objectivo de uma longa inscrição tal
como o nome das paixões que hoje a produzem, erguidas pelo orgulho e pela
gratidão, devem ser incitadas a perpetuar a excelência das suas memórias. De
outro modo, tudo se esvai e se há coisa que não nos convém é que as gerações
envelheçam e se esqueçam de coleccionar a nossa identidade. Se assim
acontecesse, o S.Paio teria certamente pela frente um grande “mar de Inverno”
quando afinal o que mais ambicionamos é embelezar todos os quotidianos.
Mário Rui
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