Ora
então chegou finalmente o momento destinado a falar de coisas sérias, com
substância. Ronaldo já não tem namorada e Carrilho está sem mulher. Assuntos da
maior importância para o pulo qualitativo do país, pois está visto que o resto
das notícias julgadas importantes passaram, segundo alguma imprensa burlesca, a
simples farsadas escritas. Pasquinadas a que alguns jornalistas devotam atenção
especial que mais não são que matadouro do bom jornalismo, lamentavelmente em
vias de extinção, que por cá já se viu, outrora. Concluíram esses escrevedores de
diversões fatelas que é deste pão com manteiga que o povo gosta e vai daí
engorde-se então a flacidez cultural de alguns – muitos – leitores com estas
musculadas e bem intencionadas casas de cultura. Vêm estampadas em periódicos
que movimentam máquinas-impressoras que bem podiam estar paradas se o que há
para dizer é isto. Ou então, melhor ainda, desligue-se a máquina se a escrita
prevista for tão raquítica quanto a que trata de penitências ou impertinências conjugais
tão úteis à sociedade quanto a gaiola ao passarinho. Se a isto subtrairmos as
depressões causadas, não pelo assustadoramente evidenciado no que toca ao país real e à crise, isso não
tem qualquer importância jornalística, mas as que resultam do saber-se das experiências
da vida íntima dos outros, então sim, podemos contar com povo informado mas
nunca com povo a quem não só não chega o dinheiro nem tão-pouco, e isso é que é
verdadeiramente grave, a educação. Mais lamentável ainda é o facto de haver
imprensa dita de “referência” que, tal como a demais sem “referências”, entra
neste delírio de notícias onde tudo é chinesice e desarranjo intelectual.
Agora, a tal jornalismo que não acrescenta saber, já só falta explicar o
caminho da casa de banho até à cama e, por este andar, as excitações de fora
ficarão definitivamente em camarim de luxo, nirvana puro. O mais, é vender,
vender muitos jornais e não interessa se a fatalidade de muitos leitores é
serem mesmo tolos. De resto, ou me engano muito ou estou completamente certo;
se alguma imprensa pudesse socorrer o tolo, já há muito teria sido banida por
lei.
Mário Rui
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