Passa
hoje (17 Junho 2108) um ano sobre os trágicos incêndios florestais de Pedrógão Grande,
Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Ansião, Sertã e Pampilhosa da Serra.
Por aqui me fico, não vá um qualquer leitor dizer que eu, em sonhos, ouso
proferir com êxtase o número indescritível de área ardida e, sobretudo, de
vidas sacrificadas às chamas. E afirmo isto com tanta mais segurança quanto é
certo que para me não escaparem outras assinaláveis desgraças, reparei com
grande cuidado em todas elas e demais criaturas atingidas. Entretanto passaram,
segundo opiniões que por aí ouço aos que as deviam ter evitado e não evitaram,
umas doze luas de mel que, supostamente, terão servido para reunir uma famosa
colecção de meios técnicos e humanos que, no próximo período crítico, tudo
resolverá. Desejo que sim, que assim seja, mas como vivo também um pouco por
este mundo do “estamos a caminho da solução”, há décadas, reservo-me o direito
de achar tudo isto coisa bastante completa de estratégia e astúcia política.
Assim, dobro esta cartilha e guardo-a, até que sejam conhecidas as provas.
Ademais, descubro ainda quando quero, como qualquer outro, o sentido das
palavras que humedecem de ternura os olhos dos arregimentados que as lêem.
Porém, gosto muito mais de palavras que humedeçam de facto a caruma que arde.
Mas uma coisa confesso para tranquilidade dos que me lerem; se realmente tudo
correr bem, como espero e quero, cá estarei para abrir então a cartilha e me
penitenciar do meu pessimismo antecipado. Se o objectivo for conseguido, direi
que finalmente saudável figura rebentou do chão antes ardido como uma planta em
flor. Talvez até condene tanto pluviómetro, barómetro, termómetro, anemómetro,
o telégrafo, a telefonia sem fios, o telefax, tudo meios que sabiam sempre de
que lado estava a chuva, o vento, a comunicação eficaz. Difícil foi sempre
encontrar de que lado vinha o fogo, entender o que faria, como todos vimos. Mas
uma certeza eu tenho; se muito correr mal, então voltaremos à inutilidade da
prevenção e, pior, insistiremos na improficuidade da carta de outorga que
alcunha de responsáveis os que do ofício nada percebem.
Mário
Rui
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