De
facto, em volta de toda esta tragédia fumega uma onda de cansaços, de
fatalismos, de decepções e de medos de novas decepções. Há ainda a própria
violência do monstro-fogo que mais uma vez leva o melhor da nossa história
pátria, as pessoas que assim perdemos em miseráveis e penosos becos sem saída.
É agora tempo de lhes entregar, desde logo, a nossa veneração e respeito por
tão traiçoeira partida, mas é também chegado o tempo de perguntar se para os
miseráveis e penosos becos sem saída que ceifam vidas humanas, ninguém tem
foice que lhes corte as ervas daninhas. É que já há muitos anos que nos pesa a
consciência de que os nossos fogos não sejam deste mundo. E são cada vez mais
asfixiantes sobre o peito do País. Bem sei que a hora ainda não é de alegar
críticas. De resto, do que presenciei, fica-me até a ideia de que os
responsáveis nacionais estiveram à altura dos seus afazeres nestas
circunstâncias, parecendo-me minimamente preparados para serem tudo quanto
Portugal queira sempre e quando ocorrem catástrofes humanas. Dos bombeiros,
gente cuja luta pela vida dos outros, lá no sítio onde a terra queima mais, tem
sido um quadro excepcional de cultura cívica e moral, quantas e quantas vezes
infelizmente sacrificado ao seu bem, só me merecem admiração. Quem lhes havia
de querer tirar este respeito? Respeito tiro-o aos que, como esta madrugada vi
na televisão, de fato domingueiro, dizendo-se presidente de uma qualquer
associação nacional, pede palco, pede plateia, pede palmas, pede tudo através
de artifícios de sintaxe que deem significação colorida a palavras chochas e
sem qualquer acrescento que resolva os males de que padecemos. Até em vendo-se
esquecido do abraço apertado, sentido, do nosso Presidente da República, que de
novo esteve bem, não se desobrigou de o chamar para o cingir com os braços não
fosse o País achá-lo um desatracado naquele cenário.
Mário Rui
___________________________ __________________________