Estarei enganado? (VER
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Se eu gostava de viver noutro
país? À pergunta que não raras vezes faço a mim mesmo, a resposta é simplesmente
não! Foi este que me viu nascer e foi com ele que me vesti, cresci e vivi,
razões mais que suficientes para não me retrair de pregar sobre ele. E se isto
é assim, ninguém me pode estranhar a atenção que lhe dedico uma vez que
condenável seria a desatenção que certamente só dissimularia uma ignóbil
doutrina cada vez mais ouvida e declamada por esses púlpitos de tão fracos
oradores. Desligado pois, não sou. Não sei o que se passa quanto ao restante
auditório que acompanha a autoridade de tantas pessoas hoje pensadas imaculadas
e amanhã reveladas, no mínimo, manchadas. Vale-me a quase certeza de não estar
a produzir fábula que encante um qualquer alegre entretido pois que a mesa
abundante de iguarias onde alguns se sentam é tão farta de privilégios que,
resistir-lhes judiciosamente, já se tornou uma miragem, que não excesso a
evitar. São casos, ou se calhar rapinas, em tal número e correndo de um modo
tão veloz que só me deixam incrédulo relativamente ao modo fácil como vão
acontecendo, ou seja, como é simples no meu país tomar o alheio contra a
vontade dos seus senhorios. Que suplício continuado é este, terreno fértil onde
cada buraco é minhoca que assoma na pá do cavador? Será defeito dos que têm
parte em resoluções, conselhos e medidas dissuasoras que erradiquem de vez
este ser e estar ou, pelo contrário, será mesmo fatalidade nacional a que
estamos votados? Se nesta obrigação de restituir ordem e ética tudo se vê
perdido, então o que fazer? Terão os que não falsificam de pagar os ‘dons’ aos
que insistem em artes e ofícios que subtraem valor? Onde está a regra e a
prudência que faça destas personagens assim vividas seres mais atentos às suas
responsabilidades? Que desgraça é esta meu Portugal, lugar onde os que entram
pela porta poderão vir a ser ladrões, mas os que ainda por ela não passaram já
o são? Continuo a gostar de viver aqui mas que jamais se me escapem os
imperfeitos que me consomem. Pelo menos enquanto lhes dedicar atenção, merecem-na,
condenação, também lhes é devida, mas jamais abdicação do direito de clamar por
mais justa, mais útil e mais
necessária consciência, bens que finalmente lhes escapam e que bem lhes ficavam
. Enquanto achar que as violências à natureza dos outros permanecem, fico arranhando
sempre, e não temendo nunca.
Mário Rui
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