Pode definir-se democracia conforme a feição
que a cada um mais interessa. Uns chamam-lhe justiça, revolução, liberdade,
poder popular, outros acham que democracia também pode chamar-se violência
colectiva, negação de direitos, tirania, sufoco e disponibilidade para fingir. Qualquer
umas destas formas de dizer e viver democracia não será mais do que um conjunto
de preceitos, uns com vantagens nítidas sobre os outros que, em todo o caso,
dão sempre lugar à necessidade de se resistir para se poder existir. O grau de
resistência deve ser evidentemente maior e mais premente sempre e quando estão
em causa as lutas contra o caos resultante de governos e regimes que não
prestam para a celebração alegre da vida dos seus povos. É nessas épocas que a
realidade humana vivida se precipita, e bem, em velocidade vertiginosa, no sentido
de uma fé que mude o curso aos acontecimentos que subjugam cidadãos. No
entanto, continuo sem perceber, sendo essa boa parte da minha inquietação
actual, de onde provém tanta incongruência como aquela a que assisto por parte
de quem ontem lutou contra a opressão e o terror e hoje lhe dá cobertura
incondicional. A estes comportamentos só lhes posso chamar atrasos escandalosos
das “ciências morais”. Por agora, levando em conta a minha tal dita
apoquentação, só me dá para recordar Einstein; « duas coisas são infinitas; o universo e a estupidez
humana, mas no que respeita ao universo, ainda não tenho a certeza absoluta.”
Mário
Rui
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