Um
par de botas brancas e com o logotipo da Nike usadas pela estrela lendária da
NBA Michael Jordan, no quinto jogo da sua primeira época com os Chicago Bulls,
em 1984, foi vendido na passada segunda-feira por quase 1,5 milhões de dólares
(1,26 milhões de euros), estabelecendo um preço recorde no leilão de calçado
usado no jogo.
Longe
de poder estar perto de perceber estas coisas, porque sou antigo, acho que
dantes a esfera destes “compromissos” era mais modesta. Hoje, todos os sonhos e
todas as pretensões têm ante os olhos um espaço indefinido por onde mergulhar a
vista, dentro do qual podem girar todas as ambições. Não se queira ver nestas
minhas reflexões propriamente censura ou sequer crítica a quem, pelos seus
sacrifícios e competências, se alcandorou ao estrelato. O que eu deploro
sumamente, embora o meu papel nestes cenários valha pouco, é a facilidade com
que se montam estes aparatos sedutores de exterioridades populares, mas
extremamente caros. E, mesmo fazendo um grande esforço para os perceber, continuo
a não enxergar como é que essas classes ricas vão bebendo avidamente o licor do
desmando, em que a proeminência do dinheiro supre a ausência do gosto e do
siso. Ou será a mim que este último começa a falhar? Estroinices, rapaziadas,
destemperos, dizem, encolhendo os ombros, certos personagens como eu. É pouca
essa gente que assim pensa? Talvez, mas também convém que alguém a lembre de
modo a não deixarmos que a enxurrada engrosse. Se já começa a ser uma
“tradição” no desporto, atente-se ao que se passa também no futebol, então
desconfio que veio para ficar. E, se se perpetuar essa “tradição”, o melhor é
começarmos a reflectir seriamente sobre a mesma já que quanto mais insensata
ela for, tanto mais degenerável se tornará e não haverá força para a conter já
que, onde só houver interesses que a explorem, vale tudo e até um par de botas.
E tanta gente com falta delas!
Mário Rui
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